Você já parou para pensar por que os medicamentos têm diferentes formatos? Comprimidos, cápsulas, drágeas em formatos redondos ou ovais, maiores, menores, em disco ou mais espessos… As particularidades de cada apresentação podem influenciar principalmente no tempo de ação do fármaco no organismo, explica o biólogo Fabiano Agrela, membro da Royal Society Biology. “O formato dos comprimidos (redondo, oval, disco), [o modo] como ele é concebido e sua composição podem afetar a área de superfície e a taxa e velocidade de dissolução, assim como a absorção no corpo. Isso acontece porque diferentes formatos possuem diferentes áreas de superfície, o que pode influenciar a rapidez com que o medicamento se dissolve e é absorvido.” Agrela afirma que comprimidos redondos podem ter uma área de superfície menor, levando a uma liberação mais lenta. Já os comprimidos ovais ou em forma de disco podem ter áreas superficiais maiores, o que pode acelerar a liberação do ingrediente. A espessura também pode interferir na liberação do medicamento. Comprimidos mais espessos podem demorar mais para se dissolver completamente, resultando em uma liberação mais lenta dos componentes, enquanto os comprimidos mais finos tendem a se desmanchar mais rapidamente e, em consequência, têm uma ação mais ágil. Ele alega ainda que alguns medicamentos possuem formatos específicos. “Por exemplo, os medicamentos de liberação prolongada têm, frequentemente, formatos especializados para permitir uma liberação gradual e controlada ao longo do tempo. Além disso, alguns remédios podem ter revestimentos especiais para proteger o estômago ou aumentar a absorção.” • Compartilhe esta notícia no WhatsApp • Compartilhe esta notícia no Telegram Agrela acrescenta que as formas dos medicamentos podem influenciar no melhor horário para tomá-los. Remédios de liberação prolongada podem ser mais adequados para ingestão à noite, enquanto os medicamentos que necessitam de ação rápida podem ser tomados pela manhã. Tipos de apresentação O farmacêutico e naturopata Jamar Tejada esclarece o funcionamento das principais apresentações de medicamentos oferecidos de forma sólida: comprimido, cápsula e drágea. • Comprimido: é produzido a partir da compressão dos fármacos e componentes adjuvantes (diluentes, estabilizadores, desintegrantes e lubrificantes) em equipamentos específicos e pode ser feito em diversos formatos. Já a pílula, termo já em desuso, é semelhante ao comprimido, possui formato esférico. Normalmente, os comprimidos funcionam melhor para medicamentos que têm ação por via oral. Existem diversos tipos de comprimidos: de ação lenta/prolongada, mastigáveis, efervescentes, de revestimento entérico (substância que protege a mucosa do estômago e começa a agir no intestino) e sublinguais. “Se um comprimido liberar o medicamento muito rapidamente, seu nível no sangue pode se tornar muito elevado e causar uma resposta excessiva. Se o comprimido não liberar o medicamento com rapidez suficiente, grande parte dele pode ser eliminada nas fezes sem ter sido absorvida, e os níveis sanguíneos podem ficar muito baixos. Os laboratórios farmacêuticos formulam o comprimido para liberar o medicamento na velocidade desejada”, alega Tejada. Entre as vantagens dos comprimidos estão a sua boa estabilidade físico-química, a precisão na dosagem e sua fácil administração. No entanto, o problema que apresentam é a impossibilidade de ajuste de dose, como é possível fazer com a cápsula. • Comprimido sublingual: é um formato que passa a agir já na mucosa oral e vai entrar diretamente na corrente sanguínea, sem sofrer os efeitos do suco gástrico e do metabolismo hepático de primeira passagem. Vai se dissolver sob a língua e produzir os efeitos terapêuticos em poucos minutos após a administração, com rápida absorção devido aos vasos sanguíneos abundantes nessa região. Sendo assim, esse comprimido alcança o sangue do paciente em cerca de 1 minuto, tendo concentração máxima entre 10 e 15 minutos. O farmacêutico afirma que, entre as vantagens desse tipo de comprimido, estão o fácil acesso e administração e o fato de ele não ser inativado pelo suco gástrico. No entanto, os comprimidos sublinguais não podem ser utilizados em crianças nem em pacientes inconscientes. Tejada lembra que esse tipo de comprimido não deve ser mastigado nem engolido, para que sua eficácia não diminua, e que pacientes fumantes só podem fazer o uso de cigarros após a absorção total do medicamento, devido às propriedades vasoconstritoras da nicotina. • Cápsula: é um revestimento solúvel que envolve medicamentos e outros aditivos. Ele pode ser duro ou mole, em formatos e tamanhos variados, geralmente composto de gelatina. Esse revestimento se dilata e libera seu conteúdo quando fica molhado. O tamanho das partículas e as características dos aditivos afetam a velocidade com que o medicamento se dissolve e é absorvido. Os medicamentos em cápsulas que contêm líquido tendem a ser absorvidos mais rapidamente do que aqueles em cápsulas que contêm partículas sólidas. As cápsulas moles recebem medicamentos em formato de óleo ou outras formas não sólidas, enquanto as duras recebem medicamentos em pó. São muito usadas em farmácias de manipulação, já que permitem a inserção de diversos princípios ativos em quantidades personalizadas. Apresentam facilidade na administração e melhor conservação, permitem administrar substâncias que têm sabor desagradável ou podem causar enjoos, liberam rapidamente os fármacos depois da ingestão e, além disso, admitem uma prescrição personalizada. Tejada adverte que as cápsulas não devem ser abertas, pois isso pode alterar o efeito da medicação quando o conteúdo é retirado. Esse tipo de administração é contraindicado para crianças e idosos caso o tamanho da cápsula seja grande. Drágea: é um tipo de comprimido, mas é revestido de açúcar e corante (processo chamado de drageamento). As drágeas são mais fáceis de ser engolidas, além de possuírem o revestimento de açúcar, que mascara sabores e odores desagradáveis de alguns princípios ativos. É indicada para fármacos que oxidam com mais facilidade. Esse tipo de revestimento tem sido considerado uma tecnologia ultrapassada, já que é um processo caro, depende muito da habilidade de quem o realiza e pode resultar em drágeas com diferentes dimensões e pesos, mesmo que no mesmo lote. Tomar remédio sem água dá problema? Veja mitos e verdades: