As inundações provocadas pela tempestade Daniel no leste da Líbia devastaram uma parte da cidade de Derna, com 50 mil habitantes, o que provocou milhares de mortes e um número indeterminado de desaparecidos.
A tempestade mediterrânea chegou à costa leste da Líbia na noite deste domingo (10), atingiu a cidade de Benghazi e seguiu para o leste, passando por Shahat, local da antiga cidade grega de Cirene, Al Marj, Al Baida e Susa (Apolônia de Cirene, na Antiguidade), mas afetou com especial violência Derna.
As águas romperam duas represas do rio Wadi Derna na noite de domingo, e uma poderosa corrente, semelhante à de um tsunâmi, arrasou bairros inteiros e destruiu pontes, para depois avançar para o Mediterrâneo.
A cheia bloqueou muitas estradas, o que dificulta o acesso ao local da catástrofe.
As autoridades que controlam o leste da Líbia, um país onde há dois governos rivais que dominam distintas partes do território, informaram na quinta-feira (14) que 3.800 mortes foram registradas, mas temem que haja muitos mais.
A região do leste do país onde ocorreu o desastre está sob controle de autoridades que não são reconhecidas pela comunidade internacional.
Uma autoridade da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (FICR) informou que há um número “enorme” de mortos, que pode chegar a vários milhares, com 10 mil desaparecidos.
Outras autoridades afirmaram que o balanço pode superar 10 mil mortos.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que ao menos 30 mil pessoas foram deslocadas de Derna, às quais se somam 3.000 habitantes que tiveram que fugir de Al Baida e mais de 2.000 de Benghazi.
Essa agência da ONU calcula que existam 884 mil pessoas afetadas diretamente pela catástrofe.
Os especialistas explicaram que uma combinação entre a deterioração das infraestruturas, os edifícios construídos sem respeito às normas de planejamento urbano na última década e a falta de preparação para uma catástrofe deste tipo transformou a cidade em um cemitério a céu aberto.
A maioria das mortes poderia ter sido evitada, declarou na quinta-feira Petteri Taalas, diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM), explicando que “os avisos poderiam ter sido emitidos e as forças de gestão de emergência teriam sido capazes de realizar a evacuação da população”.
O alto funcionário da ONU observou que os anos de conflito que assolaram a Líbia destruíram em grande parte a rede de observação meteorológica.
A Líbia, um país rico em petróleo, mergulhou no caos e na guerra após a revolta popular que derrubou o ditador Muammar Kadafi, em 2011, e há atualmente dois governos disputando o poder, um reconhecido pela ONU na capital, Trípoli, a oeste, e o outro na zona leste, onde ocorreu o desastre.
Comboios de ajuda vindos da Tripolitania, no oeste do país, começaram a chegar a Derna na manhã de segunda-feira (11). O governo internacionalmente reconhecido, liderado por Abdelhamid Dbeibah, anunciou o envio de dois aviões médicos e um helicóptero, 87 médicos, uma equipe de socorristas e cães de busca.
O diretor do Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (Ocha), Martin Griffiths, anunciou na quarta-feira a liberação de US$ 10 milhões (R$ 48 milhões) de um fundo de emergência e disse que “uma equipe forte” está destacada no terreno para apoiar e financiar a resposta internacional.
Griffiths declarou nesta sexta-feira que “a extensão” da tragédia ainda é desconhecida.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) informou que começou a prestar ajuda a mais de 5.000 famílias deslocadas pelas cheias e disse que há milhares de pessoas “sem comida e sem abrigo”.
A ONU, os Estados Unidos e vários países do Oriente Médio e do norte da África também prometeram mandar ajuda, e já foram enviadas equipes de resgate estrangeiras na esperança de encontrar sobreviventes.