Em meio a dezenas de discussões que moldam o cenário econômico atual, como a reforma tributária, destaca-se um profissional que atua na base do nosso sistema econômico: o contador, especialista que contribui diariamente para o sucesso de empresários, empreendedores e Microempreendedores Individuais (MEIs), descomplicando a parte burocrática e financeira de quem empreende no Brasil. Em 22 de setembro é comemorado o Dia do Contador e, para celebrar a data, entrevistamos, com mais de 30 anos de experiência como empresário contábil, ex-presidente da Fenacon e Sescon-SP e Diretor Estratégico da IOB, Sérgio Approbato, para dividir suas experiências na carreira e compartilhar também a sua visão para o futuro da profissão. O que te chamou atenção na área da contabilidade? Antes do curso de ciências contábeis fiz administração de empresas, e trabalhei em algumas empresas de grande porte. Nesse ambiente, vi que todas as decisões importantes caíam na área da contabilidade e fui me interessando cada vez mais. Depois, acabei trabalhando em uma grande empresa de auditoria tendo mais clareza estratégica da contabilidade e de gestão. O que te fascina na profissão de contador? O contador precisa ter múltiplos conhecimentos. Não só relacionado a profissão contábil, mas também das outras atividades econômicas. Sempre é um desafio quando você entra em uma atividade nova, quando amplia seus clientes para outros setores da economia. Você tem que se aprofundar em novas áreas regulatórias, de legislações e obrigações específicas. É uma riqueza de vivências e informações, que outras áreas geralmente não possuem a fundo. Temos de ser especialistas naquilo que fazemos para poder ajudar os nossos clientes. O contador precisa ter essa expertise. Nos seus 30 anos de profissão qual foi o maior desafio enfrentado? Temos desafios todos os dias. Quando chega uma situação que você não conhece e tem que buscar como enfrentar e resolver. Um exemplo disso foi quando um dos meus clientes resolveu com um grupo de amigos entrar no mercado de corrida de cavalos e tivemos que ir atrás das regulamentações que ainda não conhecíamos. Foi um desafio, entender do zero as situações regulatórias, ambientais e até veterinárias. E o que dá mais prazer é de que você está, com certeza, colaborando com o crescimento de um novo negócio, ajudando empreendedores a seguirem seus caminhos. O que você acha que valorizou a profissão da contabilidade nos últimos anos? Creio que a criação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) pela Receita Federal do Brasil, veio para melhorar ainda mais esta percepção. Ele obrigou as empresas a trabalharem de maneira mais organizada e com mais metodologia em seus processos. Com isso o empresário começou a ter um olhar diferente para o profissional que lhe atende, a vê-lo com uma importância ainda maior dentro de seus negócios. A nota fiscal eletrônica, por exemplo, primeira ação deste sistema, revolucionou a emissão dos documentos fiscais, um dos primeiros passos do SPED. Anterior a ela, todo documento era feito de forma mecanizada ou a mão, não havendo esse super cruzamento dos dados dos conteúdos incluso, não havia absolutamente nenhuma integração. Tínhamos os dados da nota como referência para cálculo dos tributos envolvidos na operação, como o valor do tributo unitário, cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) , o frete, etc. Com a nota fiscal eletrônica os controles foram ampliados. A nota tem vida, dados de produto a produto, um controle individualizado de tudo que há na nota, até controle de estoque podemos pegar por aqui. E em termos de análise, hoje a fiscalização vê tudo isso com outros olhos, pois facilitou o trabalho e a sinalização de erros nas obrigações das empresas. Sendo assim, os empresários passaram a reconhecer melhor o trabalho do contador. Outros países possuem um sistema parecido com o do SPED? O Brasil é inovador, não conheço outro país que tenha algo igual ao SPED, como solução para ajudar os órgãos fiscalizadores em suas atribuições. Somos referência mundial. O SPED veio para modernizar nosso sistema tributário e o mundo inteiro enxerga bem esse lado tecnológico brasileiro. Lembro que nos Estados Unidos, no início dos anos 90, para se efetuar uma transferência bancária levava-se muitos dias ao passo que no Brasil já existia o TED, No Brasil tudo já era automatizado. Hoje, continuamos a frente nas inovações bancárias, com o Pix, por exemplo, que só existe aqui e continua nos destacando diante do mercado internacional. No início da sua atividade nas entidades contábeis você almejava chegar à presidência da FENACON? Não, quando comecei minha jornada nas entidades, entrei através do Sescon-SP, que foi uma grande escola e aprendizado para meu desenvolvimento pessoal e profissional. Aprendi a expressar minhas ideias e pensamentos e, o mais importante ao meu ver, escutar e aprender com todos os profissionais que também traziam seu ponto de vista enriquecendo nossas discussões em reuniões bastante ricas em conteúdo. Eu procurava me posicionar mais nas reuniões e mostrar meus conhecimentos para quem estivesse nas mesas de reunião, assim fui me destacando pouco a pouco. Foi um processo natural, sem intenção. Nessas atividades, a gente precisa saber colocar nossas ideias e respeitar as dos demais. Também peguei uma fase de transição com mais integração entre as atividades empresariais com os órgãos públicos, onde fui aprendendo muito com essas dinâmicas. Você acredita que com a reforma tributária o papel do contador será tão importante como nunca? Tenho certeza que será tão importante quanto sempre foi. Acredito que seremos protagonistas nos esclarecimentos das inovações trazidas pelo novo sistema tributário ao público em geral, mas especialmente aos empresários. Vamos ter que ser mais criativos para orientar nossos clientes. Hoje, o curso de Ciências Contábeis é o 4º mais procurado nas universidades. São mais de 500 mil profissionais atuando e mais de 360 mil a se formarem, ou seja, quase 1 milhão de pessoas envolvidas no setor da contabilidade. Como você vê o futuro da profissão? Acho que essa percepção de que o curso de Ciências Contábeis é bom já vem de alguns anos. Mostra que a sociedade também passou a enxergar isso. Ainda mais nos dias de hoje com a tecnologia, as empresas melhoraram seus processos de gestão e, a maioria dos profissionais da contabilidade são mais procurados e exigidos para ajuda aos negócios no país. Temos muitos jovens chegando na profissão e falando de tecnologia, de indicadores, e como ajudar os clientes a terem melhor performance, com uma nova linguagem. Antigamente, o contador tinha aquela imagem do sujeito quietinho, atrás de uma mesa, mas hoje com as mídias isso está mudando. É uma nova dinâmica e isto é muito saudável ao nosso segmento de mercado. O que você destacaria de diferencial na atividade representativa do contador em relação aos outros profissionais? Diferente de outras atividades empresariais que em suas representações defendem os interesses inerentes ao seu negócio, nós contadores nunca defendemos a nossa atividade específica, e sim a do empresariado em geral, pois todo segmento econômico sempre tem um profissional contábil para orientá-lo, pois trabalhamos com todos os segmentos econômicos existentes no país, portanto defendemos a economia de forma ampla abraçando todos os segmentos. Esse é o grande diferencial do contador, que sempre procura em suas decisões manter sua neutralidade e sua própria autonomia.