Mais cedo, a delegada Ivalda Aleixo, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou que peritos da Polícia Técnico-Científica adiantaram para a investigação que foi uma munição bean bag que atingiu a cabeça do torcedor, do lado de fora do Estádio do Morumbi, na Zona Sul da capital. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio decorrente de tumulto e ainda tenta identificar de onde partiu o tiro e quem atirou. A investigação quer saber se o disparo foi feito por um policial militar ou por outra pessoa (saiba mais abaixo). De acordo com a porta-voz da PM, os policiais podem ser afastados somente após procedimento de apuração interna. Ela disse ainda que apenas alguns dos cerca de 500 PMs, destacados para cobrir a final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo, usaram a espingarda que dispara a munição menos letal bean bag. A bean bag começou a ser utilizada há cerca de um ano pela polícia e passou a ser parte do hall de munições após os estudos internos mostrarem baixo potencial de perfuração (leia mais abaixo). São Paulo é o primeiro estado brasileiro a usar a bean bag. Pollete afirmou ainda que só a PM pode usar a bean bag e que ela não é vendida facilmente para civis. Ela informou que a PM ainda não teve acesso ao laudo. “Nós temos duas investigações em andamento, o inquérito da Polícia Civil e o inquérito da Polícia Militar; que foi instaurado no mesmo dia, no domingo. Nós não tivemos acesso ainda ao laudo pericial, mas ele já foi solicitado para verificarmos exatamente essa informação de que a causa da morte foi uma munição de menor potencial ofensivo, a bean bag”. “Nós tínhamos vários policiais atuando ali. E alguns deles, utilizaram a arma, no caso a espingarda calibre 12 que efetua o disparo da bean bag. Qualquer policial que utiliza essa arma, ele precisa de treinamento, qualificação e ele é habilitado . Não são todos os policiais, pouquíssimos policiais uilizam esse equipamento. Especificamente naquela atuação, nós vamos identificar quem estava utilizando esse equipamento para a gente poder trazer isso pra investigação e saber eventualmente o que realmente aconteceu”, completou. Perícia Além de ter encontrado um artefato de ‘bean bag’ preso à cabeça de Rafael, a perícia achou mais três munições do mesmo tipo do lado de fora do estádio. O boné que ele usava ficou com um furo na parte de trás, provavelmente por causa do disparo. O laudo da causa da morte está sendo feito pelo Instituto Médico Legal (IML). O laudo sobre o artefato que matou Rafael será produzido pelo Instituto de Criminalística (IC). Uma reconstituição virtual do crime também será realizada. Os resultados dos exames ainda não ficaram prontos. O que são ‘bean bags’ Delegada Ivalda Aleixo, do DHPP, confirma que ‘bean bag’ atingiu e matou são-paulino — Foto: Anderson Colombo/TV Globo “Beans bags” (“sacos de feijão”, numa tradução literal do inglês para o português) são na prática pequenas esferas de chumbo envoltas por plástico que ficam dentro de sacos de tecido sintético. A Polícia Militar paulista usa esse mesmo tipo de munição desde 2021. E apesar de PM ter admitido somente nesta quinta-feira ter usado as “bean bags” no domingo para conter são-paulinos, a Polícia Civil ainda quer saber se o artefato que matou Rafael é mesmo da corporação, e quem atirou no torcedor: se foi um agente da PM ou não. “Agora que [a investigação] está afunilando. Porque sabemos o que atingiu [o torcedor], que tipo de munição, que é a ‘bean bag'”, falou a diretora do DHPP à reportagem. “Já sabe o que o atingiu: Foi uma ‘bean bag’. Mas nós não sabemos de onde partiu.” DHPP ouvirá PMs Polícia investiga se ‘bean bag’ matou torcedor do São Paulo Mesmo assim, Ivalda disse ainda o DHPP vai chamar policiais militares que participaram da ação e outros torcedores e testemunhas que estavam no local para prestarem depoimento e ajudarem a identificar quem atirou. “A gente trabalha com várias hipóteses. Não sabemos de onde veio [o disparo] ainda. Isso vai nos permitir saber de onde partiu [o tiro] e saber quem arremessou, disparou seja lá o que for”, falou a diretora. “Quem estava perto dele [de Rafael]…. Óbvio, que se for necessário, vamos chamar a Polícia Militar, porque foi ela que conteve, mas em momento algum aqui, alguém, ninguém da equipe aí, ficou pensando só apenas nisso, né. São vários quadros possíveis em que pode ter acontecido.” A polícia também analisa as imagens de vídeos e câmeras de segurança para tentar identificar quem atirou na cabeça do são-paulino. Numa das imagens que circulam na web, um policial militar aparece armado, atirando para o chão na direção de torcedores. Não é possível saber que tipo de munição ele estava usando. Tiro foi dado a curta distância Boné que teria sido usado por Rafael Garcia tem furo na parte de trás — Foto: Reprodução Mais cedo, Ivalda havia falado com a Rádio CBN, informando que o disparo que matou Rafael foi dado por quem estava perto do torcedor. “Foi muito próximo dele [de Rafael]. Porque o impacto foi muito forte. Acertou diretamente nele e à distância curta. Normalmente esse tipo de munição é disparado a uma distância maior justamente para não causar nenhuma lesão”, disse Ivalda à CBN. Segundo o protocolo da PM, as “bean bags” devem ser disparadas a uma distância mínima de até 6 metros. Abaixo disso há risco para quem fora atingido. A vítima tinha 32 anos, deficiência auditiva, e foi encontrada desacordada após a confusão. A morte foi confirmada num hospital da região. Há casos de mortes registradas pelo mundo no uso de “bean bags”. Em 2019 um manifestante morreu na Colômbia depois de ter sido atingido pela munição. E em setembro deste ano uma mulher foi morta após ser ferida pelo artefato na Austrália. Desde 2021, quando a PM passou a usar esse tipo de munição, essa seria a primeira morte com uso dela no estado de São Paulo e possivelmente no Brasil. Enterrado o corpo do torcedor do São Paulo que morreu depois do jogo no Morumbi ‘Bean bags’ x balas de borracha As “beans bags” estão sendo usados pela PM para substituir gradativamente as balas de borracha, que, segundo a corporação, apresentaram falhas em testes. Entre os problemas foram detectados desvios de trajetória durante os tiros, colocando pessoas em risco. Tanto a “bean bag” quanto o elastômero (nome técnico da bala de borracha) são disparados por uma espingarda calibre 12. Segundo protocolos da PM, as “bean bags” têm de ser disparadas a uma distância mínima de 6 metros, enquanto as balas de borracha precisam de 20 metros para ter segurança de que não causará um dano maior a quem for atingido.