Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o major José Eduardo Natale, que integrava Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que deu água aos manifestantes, que estavam no Palácio do Planalto, para controlar a situação e evitar que eles invadissem a sala da Presidência da República. “A partir daquele momento, havia entrado em uma situação de gerenciamento de crises, cujos princípios são conter, isolar, negociar e o objetivo principal é preservar vidas”, declarou Natale. “Assim, comecei o processo de contenção.” Durante os atos de vandalismo que aconteceram em Brasília em 8 de janeiro deste ano, Natale ocupava a função de Supervisor de Segurança Presidencial. Na ocasião, ele foi escalado para ser coordenador de instalações. Desse modo, ele era o responsável pelos prédios do Executivo, incluindo o Planalto. + G. Dias diz não se lembrar de avisos que recebeu ex-Abin De acordo com o major do GSI, depois da chegada dos depredadores, ele tentou conter o grupo fora do Planalto, mas o efetivo de policiais não conseguiu segurar os manifestantes. Depois, Natale afirmou que foi até o 3° andar do prédio, onde fica o gabinete presidencial. “Permaneci no mezanino do 3° andar quando ouvi um barulho e observei que a porta do corredor em frente ao gabinete presidencial havia sido arrombada”, continuou. A situação com os invasores, conforme o major do GSI, era delicada, por isso, ele preferiu não entrar em confronto com os manifestantes e atuar para que eles deixassem o prédio. “Entrei na copa e, ao abrir a porta, três manifestantes exaltados e hostis apareceram perguntando o que havia naquele local”, contou Natale. “Respondi que ali não havia nada, somente água.” + 8 de janeiro: G. Dias foi avisado sobre a chegada de quase 100 ônibus Neste momento, um dos invasores teria pedido uma garrafa ao militar. “Em um esforço de acalmar os ânimos e conter aquela crise, sob a ótica da razoabilidade, avaliei que deixar que pegassem a água era razoável para que a situação não se inflamasse, e aquelas pessoas saíssem do local sem causar maiores danos”, disse Natale. De acordo com a oitiva do major, no momento em que as câmeras de segurança flagram ele servindo água para o grupo, ele estaria falando a um deles que a sala do presidente Lula ficava no pavimento inferior, em uma tentativa de levá-los para longe de onde estava realmente localizado o gabinete. “Ele então chama outros manifestantes, sai e desce as escadas, abandonando a região do gabinete presidencial”, declarou o militar. Militar do GSI, que serviu agua a manifestantes, já havia contado versão à PF A versão contada por Natale à CPI é a mesma que ele apresentou em depoimento à Polícia Federal (PF), em abril deste ano. Na ocasião, o major do GSI explicou que agiu de tal forma, pois estava sozinho e temia ser linchado pelos vândalos. À comissão, Natale disse que, no momento das invasões, temeu por sua vida. O major do GSI foi exonerado do cargo depois do 8 de janeiro, ainda quando o general Gonçalves Dias era o ministro-chefe da pasta. G. Dias deixou o ministério em abril deste ano, depois que a CNN divulgou imagens do circuito interno do Planalto. As gravações mostram o general e Natale. Nas cenas, G. Dias aparece à paisana interagindo com os manifestantes. Leia também: “O mosaico do 8 de janeiro”, reportagem publicada na Edição 179 da Revista Oeste.