Condenado a 31 anos e um mês de prisão pela morte da filha, Isabella, em 2008, Alexandre Nardoni obteve uma redução de 96 dias de pena por ter trabalhado por 277 dias e por ter lido o clássico Carta ao Pai, de Franz Kafka (1883-1924). Publicação póstuma, a obra foi escrita pelo autor tcheco em 1919 e nunca chegou a ser entregue ao destinatário. Nas cem páginas, um Kafka de 36 anos expõe toda a sua mágoa ao chamar o pai de “tirano”, “rei” e “Deus” e considerá-lo responsável por sua falta de amor-próprio e sua amargura com a vida. O estopim do desabafo seria a falta de apoio de Hermann Kafka ao noivado do filho. Nardoni é bacharel em direito e cumpre regime semiaberto na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, em Tremembé, interior de São Paulo. Ele foi condenado ao lado da mulher, Anna Carolina Jatobá, por jogar a filha de 5 anos da janela do 6º andar do prédio onde moravam, na zona norte de São Paulo — assassinato que nega até hoje. Anna Carolina atualmente cumpre regime aberto. • Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo Telegram Alexandre Nardoni faz parte do programa de incentivo à leitura da Secretaria da Administração Penitenciária. Como parte do projeto, fez uma resenha sobre o livro, em maio deste ano, na qual diz que o recomenda por retratar a “história de vida dos pais com os filhos”. Escreveu ainda que isso é “o que acontece com diversas famílias nos dias de hoje […], em seus lares com falta de diálogo”. A leitura abateu quatro dias da pena, e cada detento pode ler no máximo 12 obras por ano. A remissão de pena é um direito assegurado pela legislação brasileira. O parecer favorável foi assinado pela juíza Marcia Beringhs Domingues de Castro, da 2ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté. Ao lado de obras-primas de cunho existencial, como O Processo e A Metamorfose, Carta ao Pai é considerado um dos textos mais emocionantes da literatura ocidental e começa assim: “Querido Pai: Você me perguntou recentemente por que afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas consequências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento.” VEJA MAIS: Relembre o caso Isabella Nardoni e veja a situação dos condenados pelo assassinato Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.