Em nota, o historiador Otoni Mesquita afirmou que usou argila natural no procedimento e pediu desculpas. Acompanhado de outras pessoas, ele esteve no local, conhecido como “Praia das Lajes”, na terça-feira (24), data em que Manaus celebrou 354 anos. No grupo, estava a professora Gisella Braga, que compartilhou as fotos a visita nas redes sociais. Historiador diz que usou argila natural para pintar gravuras rupestres milenares reveladas pela seca do Rio Negro em Manaus — Foto: Reprodução/Redes sociais “Manhã de aniversário de Manaus incrível. Visitei o sítio arqueológico das Lajes, à margem do rio Negro, defronte para o Encontro das Águas e visualizei pela primeira vez na minha vida, resquícios de manifestações artísticas, dos povos que aqui viveram”, escreveu Gisella, que recebeu várias críticas de outros internautas. “Meteram tinta nos desenhos sabendo que podem ser coisa muito antiga?”, escreveu um internauta. “Moça diz por favor que isso aí que vcs passaram nas gravuras rupestres não é tinta”, afirmou outro internauta. Mesquita, que chegou a compartilhar uma foto da visita, apagou o post após as críticas. Nesta quinta-feira (26), o historiador divulgou uma nota, em que apresenta o currículo acadêmico e profissional. Citou uma formação em jornalismo pela Universidade do Amazonas, como se chamava a Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Também listou uma formação em Gravura, pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de mestrado em História e Crítica da Arte e doutorado em História. Grupo de pesquisadores visitou Praia das Lajes, em Manaus, no domingo — Foto: Reprodução/Redes Sociais O historiador afirmou que esteve no Sítio das Lajes, para fazer o registro das gravuras. “Meu interesse pelo material arqueológico vem de muitos anos, não somente pela questão histórica, mas pelo valor cultural para todos nós da região, provavelmente, por se tratar de uma das mais remotas manifestações dos povos oriundos, portanto, de grande relevância para nossas referências históricas e culturais”, argumentou. Na nota, Otoni Mesquita também pediu desculpas. “Em momento algum pretendi agredir a obra, ou ferir a memória de nossa ancestralidade. Peço minhas sinceras desculpas àqueles que, por alguma razão, se sentiram ofendidos com a adoção do meu método de investigação, que está dentro dos pressupostos de formação acadêmica. Agradeço a todos aqueles que foram capazes de ouvir e compreender o fato, e reitero minha justificativa, com o presente esclarecimento”, finalizou. Mesquita disse que levou papéis e outros materiais para realizar a coletar os registro arqueológicos, além de máquina fotográfica para fazer um registro mais próximo das gravuras. “Recorri aos métodos aprendidos há três décadas na disciplina ‘Introdução à Arqueologia’, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, e na UFRJ. Também carrego comigo conhecimentos referente ao uso dos materiais em obras históricas e artísticas, a partir de uma especialização em Conservação e Restauro na IFRJ”, afirmou. Segundo o pesquisador, a intenção era deixar uma das figuras mais visível para fazer as fotos. “Antevendo que se trate de uma oportunidade rara, procurei recursos técnicos para realizar o registro. Ciente de que se tratava de um procedimento que não causaria risco ou dano, nem se constituiria uma agressão ao bem artístico e cultural, eu tinha, portanto, a pretensão de ressaltar os atributos da obra primitiva. Considerava que a mesma se encontra localizada num local de penumbra dentro de uma pequenina caverna nas pedras. Por isso, procurei utilizar um método que evidenciasse o contraste das incisões que definem a face gravada no sentido parietal”, alegou. Historiador diz que usou argila natural para pintar gravuras rupestres milenares reveladas pela seca do Rio Negro, em Manaus — Foto: Reprodução/Redes sociais De acordo com o historiador, o procedimento foi feito com pincel e argila natural de coloração branca. “Esse é um método que era bastante aplicado em intervenções arqueológicas para ressaltar traços de incisões, quando os pesquisadores fazem registro de sítios com incisões rupestres”, destacou. Sem citar autorização para realizar intervenções no sítio arqueológico, o pesquisador disse usou caulim, um produto que, segundo ele, não contém substância industrial. “É inteiramente natural, sem aglutinante, ou qualquer outro produto que possa intervir e agredir a obra. Assim, o caulim foi depositado no interior das incisões do desenho e logo depois foi imediatamente retirado com a água do próprio rio negro, após eu ter feito o registro fotográfico”, continuou. A professora Gisella Braga ainda não se manifestou sobre o caso, mas compartilhou o posicionamento de Otoni Mesquita nas redes sociais. Intervenções precisam de autorização Depois da repercussão do caso, o Iphan divulgou uma nota na noite de quarta-feira (25). O instituto informou que tem feito fiscalizações na área do sítio arqueológico Ponta das Lajes, com apoio do Instituto Soka Amazônia, em Manaus. “O Iphan procurou os órgãos competentes para evitar possíveis danos aos bens arqueológicos, especialmente a Polícia Federal, o Batalhão de Polícia Ambiental e a Secretaria Municipal de Segurança Pública. Esta, por sua vez, deverá realizar patrulhas de modo a impedir qualquer dano ao Patrimônio Cultural brasileiro”, destacou. Conforme o Iphan, por causa da seca, está sendo providenciado um Plano Emergencial para o local. “Incluindo a instalação de um grupo de trabalho para gestão compartilhada do sítio, envolvendo diversos órgãos”, disse. O instituto destacou, ainda, que os bens arqueológicos pertencem à União. “A legislação veda qualquer tipo de aproveitamento econômico de artefatos arqueológicos, assim como sua destruição e mutilação”, afirmou. De acordo com a instituição, pessoas que tenham interesse em pesquisas de campo e escavações, devem enviar um projeto arqueológico ao Iphan, que vai avaliar o pedido. “Só então, editará portaria de autorização. Assim, qualquer pesquisa interventiva realizada sem autorização do Iphan é ilegal e passível de punição nos temos da lei”, ressaltou, sem citar nomes nem quais punições as pessoas podem sofrer. Segundo o Iphan, há Plano de Ação em andamento para pesquisar e cadastrar sítios arqueológicos no Amazonas. “Com isso, pretende-se produzir conhecimento sobre o Patrimônio Arqueológico da região amazônica, promovendo, ao mesmo tempo, ações educativas que, também, são uma forma de prevenir futuros prejuízos a esses bens”, concluiu na nota. De acordo com arqueólogo Jaime Oliveira, as gravuras têm entre 1.000 a 2.000 anos — Foto: Hariel Fontenelle/ g1 AM Gravuras reveladas Conhecidas popularmente como “caretas”, por terem semelhanças com expressões humanas, gravuras rupestres esculpidas em paredes rochosas há mais de mil anos voltaram a aparecer, em Manaus, durante a seca histórica do Rio Negro, que registra o nível mais baixo em 121 anos de medição. O g1 visitou o sítio arqueológico no dia 18 deste mês, junto com o arqueólogo Jaime Oliveira e uma equipe da Rede Amazônica. Veja fotos aqui. De acordo com o arqueólogo, as gravuras são pré-históricas e trazem representações antropomorfas de civilizações que habitavam a região. “A região é um sítio pré-colonial que tem testemunho de ocupações bem antigas, algo que a gente poderia mensurar de 1000 a 2000 anos atrás. O que estamos vendo aqui são representação de figuras antropomorfas, ou seja, figuras humanas”, explicou Jaime, na ocasião. Gravuras rupestres esculpidas na praia de Lajes em Manaus — Foto: Hariel Fontenelle/ g1 AM Vídeos mais assistidos do Amazonas