Em 28 de outubro de 1973, o estudante de direito da Universidade Federal de Minas Gerais e militante de esquerda José Carlos Machado, então com 27 anos, foi torturado e morto pela ditadura militar. Cinquenta anos depois, o assassinato dele tem sido relembrado com homenagens ao longo desta semana. (veja mais abaixo) Zé Carlos, como era conhecido, era militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Ele foi preso, torturado e morto em 1973, no DOI-CODI de Recife (PE), ao lado do colega de militância e amigo Gildo Macedo Lacerda, após diversos episódios de perseguição. “É importante que isso seja dito e redito. Se a gente não conhece o passado, a gente corre o risco de repeti-lo. É importante resgatar a memória desse período e reconhecer aqueles que lutaram pela democracia e foram torturados, assassinados, perseguidos. Todos eles, de alguma forma, contribuíram para construir uma tradição democrática no Brasil”, ressaltou Marcelo Cattoni, professor do Direito da UFMG e coordenador do seminário em homenagem a Zé Carlos. Quem foi Zé? O ator Caio Horowicz interpreta José Carlos Mata Machado no filme ‘Zé que será exibido neste sábado (28) no Cine Santa Tereza. — Foto: Divulgação/Embaúba Filmes Zé Carlos era filho de Edgard de Godoi da Mata Machado, que foi deputado estadual, federal, senador e professor da UFMG, e de Yedda Novaes da Mata Machado. Nascido no Rio de Janeiro, ele veio ainda criança para Belo Horizonte. Ingressou na Faculdade de Direito da UFMG em 1964, quando foi aprovado em primeiro lugar. Na universidade, passou a integrar movimentos de esquerda, principalmente a Ação Popular. Chegou a ser vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e foi preso pela primeira vez no 30º Congresso da entidade, no interior de São Paulo, em 1968 — ano do AI-5, ato mais repressivo da ditadura militar. Militância e morte Depois de liberado da prisão, Zé Carlos continuou atuando na militância contra o regime, mas já ciente dos riscos que corria. “Em outubro de 1973, sabendo que poderia ser preso, providenciou um esconderijo. Com dois cunhados e um amigo, se preparavam para encontrar com a companheira dele para seguirem para um sítio do interior de Minas Gerais, onde ficariam escondidos”, rememorou o professor Cattoni. A ideia era seguir para o exílio. Entretanto, os planos foram interrompidos pela prisão. “Os quatro foram presos pelo delegado [Sérgio] Fleury, responsável pelo Dops de São Paulo. Todos foram levados para o DOI CODI em São Paulo, depois transferidos para Belo Horizonte e, finalmente, para o Recife”, completou o professor. Dops Belo Horizonte — Foto: Reprodução/ TV Globo Esclarecimentos Em Recife, os quatro foram interrogados e torturados. Zé Carlos acabou morrendo em consequência da violência. Mas sua morte só foi esclarecida em 1995. “Houve uma versão oficial, forjada, de que ele teria morrido numa ação policial. Anos depois, as coisas vão se esclarecendo. Depois, no pós-1988, já em 1995, a versão é confrontada por outros presos da época, que confirmam que foi torturado e morto”, explicou Marcelo Cattoni. Homenagens A agenda de homenagens a Zé Carlos contou com seminário na Faculdade de Direito da UFMG e sessão especial na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Neste sábado, haverá exibição do filme “Zé”, que narra os últimos anos da trajetória de vida dele, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza), às 10h30. Vídeos mais assistidos do g1 MG