Após várias sessões de quimioterapia e radioterapia durante aproximadamente um ano, a juiz-forana perdeu os cabelos, sofreu com os vômitos e as várias outras reações às medicações. No processo de cura contra três tumores na mama e três linfonodos na região axilar, um deles cancerosos, veio também a redescoberta de si própria e, há sete meses, ela celebra o renascimento de outra Adriana dentro de si. “O câncer trouxe dor, mas também trouxe alívio. Ele me despertou, me mostrou que posso fazer qualquer coisa. Hoje, por exemplo, entendi que sou prioridade, que posso terminar de arrumar a cozinha, sentar na sala e ler um livro, parar para planejar minhas lives nas redes sociais, coisa que eu antes não fazia. Estou me descobrindo. Estou vivendo o melhor de Deus na minha vida”. A superação e o autoconhecimento despertaram também a solidariedade e o sonho da criação de um espaço para acolhimento a outras mulheres, não só em tratamento contra o câncer, como aquelas em situação de rua. Adriana Justina não só superou o câncer de mama como diz que se redescobriu enquanto mulher — Foto: Fabiana Linhares “Queria poder disponibilizar auxílio a mulheres que trabalham e não têm tempo para marcar os exames. Para as em situação de rua, queria proporcionar o cuidado para elas poderem passar na porta, entrar para tomar um banho, colocar um absorvente, tomar uma água gelada”, vislumbra. Sai a enfermeira, entra a paciente Para a técnica de enfermagem, acostumada a uma rotina intensa de plantões em dois hospitais da cidade, o banho, que seria um momento de relaxamento, acabou tornando-se um baque. “Cheguei de um plantão, fui tomar banho e senti um caroço no momento que passava o sabonete. Chamei minha filha para ver se ela também sentia, e ela percebeu mais dois caroços. Fiquei preocupada, pois, até então, minha mama não tinha aqueles sinais. Fui deitar com a cabeça a mil por hora e no outro dia já marquei um ginecologista”. Adriana Justina no último dia de quimioterapia — Foto: Arquivo Pessoal Mesmo com o diagnóstico recebido dias depois, as primeiras reações foram na tentativa de negar a situação: “De início eu não queria aceitar, pois não tive tempo de ensaiar para viver o câncer. A bomba caiu e tive que aprender a lidar com aquela situação. Mas, aos poucos, esqueci que era uma técnica de enfermagem e foquei no meu processo. Aceitei o processo e rejeitei o câncer”. Mente sã para a cura da mama doente Ao perceber que o fator psicológico seria decisivo no sucesso do tratamento, Adriana foi criando condições para lidar mentalmente com o processo. “As pessoas diziam ‘você está doente’ e eu rebatia. Dizia que eu não estava doente e sim a minha mama. ” Durante 12 meses, Adriana enfrentou sete ciclos de quimioterapia, com aplicações a cada 21 dias. Neste período, viveu diversas reações, inclusive a dor pela perda da mãe. “Vivi todos os sentimentos possíveis: fiquei triste, chorei, passei pelo luto, pois no período da quimioterapia perdi a minha mãe”. A vida antes elétrica também mudou de ritmo. “Fiquei fraca, sem poder fazer exercício e caminhadas. Fiquei careca, nauseada, sem vontade de vomitar, mas com aquela coisa que só de olhar me embrulhava o estômago, e perdi o paladar”, explica ela, que também precisou enfrentar 25 sessões de radioterapia para controle de três linfonodos na região axilar, um deles cancerosos. Adriana Justina diz que aprendeu a ter um tempo para si própria depois que precisou a se redescobrir durante o tratamento contra o câncer — Foto: Arquivo Pessoal Acolher a quem precisa Com o câncer curado, Adriana virou inspiração para amigos, familiares e outras mulheres que foram conhecendo sua história. A habilidade em poder falar com o público, inclusive, foi outra descoberta que a enfermeira descobriu durante o tratamento. “Digo que não passei pelo câncer à toa. Todo processo tem um propósito e o meu foi para ajudar outras mulheres”, diz ela, que tem participado de eventos e palestras gratuitas sobre cuidados femininos e alimentado suas redes sociais com informações e inspirações. Enfermeira supera câncer de mama e sonha criar casa de acolhimento em Juiz de Fora Hoje, além dos cuidados que ainda precisa ter com a doença e do acompanhamento que terá que fazer pelos próximos 10 anos, ele diz estar mais atenta a hábitos que não tinha. “Passei a seguir um plano alimentar e perdi 13 kg. Faltam agora outros 9 kg. Aprendi a me alimentar bem, a beber bastante água, a gostar de caminhada. Sempre fui vaidosa, mas mais nos fins de semana. Agora sou de segunda a segunda-feira. Aprendi a pedir um abraço, a pedir para falar. Descobri que tenho sentimento”. Um dos sentimentos é a esperança, de poder transformar o sonho em realidade. “Tenho sonhos e projetos. Meu sonho é montar a casa de atendimento, não só para as mulheres que estão em busca de tratamento, mas as que estão em situação de rua. O projeto agora é esse”. VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes
Enfermeira que superou três tumores na mama celebra cura e sonha em criar casa de acolhimento em MG
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