Ondas de calor, suores noturnos, problemas de sono, transtornos de humor e falta de libido. Todos esses sintomas começam a surgir pela falta (ou queda) dele: o estrogênio. “Se tivesse alguma coisa que pudesse ser distribuída na água das mulheres para resolver todos os sintomas do climatério, essa coisa seria o estrogênio. Os receptores do estrogênio estão distribuídos por todo o organismo feminismo, desde o cérebro até os órgãos genitais. Então, a falta dele desregula tudo”, explica Flávia Fairbanks, mestre e doutora em ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Se a mulher está com falta de estrogênio, então é fácil resolver, basta repor esse hormônio, certo? Não. A reposição hormonal é uma das terapias disponíveis para amenizar sintomas e melhorar a qualidade de vida, mas não é indicada para todas as mulheres. A gente indica para quem precisa de tratamento, ou seja, as pacientes que estão tendo sintomas que impactam negativamente na qualidade de vida. Se a mulher entrou na menopausa e está bem, ela não precisa de reposição — Flávia Fairbanks, mestre e doutora em ginecologia Quem pode fazer reposição hormonal — Foto: Luiza Rivas / Dhara Assis / Bárbara Miranda | arte g1 Como funciona a reposição? O “culpado” pelas mudanças na vida da mulher durante o climatério e menopausa é o estrogênio. Então, a reposição desse hormônio melhora os sintomas, previne perda de massa óssea, diminui risco de doença cardiovasculares. “A molécula do estrogênio ativa a função da célula específica. No cérebro, o estrogênio atua no centro que regula a temperatura, fazendo com que o sistema mantenha a temperatura adequada. Se não tem estrogênio, o centro entra em curto-circuito, provocando ondas de calor. Na pele, ele faz parte dos processos de renovação celular”, explica Flávia Fairbanks. Além do estrogênio, temos também a progesterona. E a reposição desse hormônio é indicada, em conjunto com o estrogênio, para mulheres que têm útero. Se a paciente já tiver feito a cirurgia de remoção de útero, ela não precisa fazer essa combinação. “O estrogênio sozinho vai proliferando o endométrio e pode aumentar o risco de câncer. A progesterona inibe a ação no endométrio”, esclarece Lucia Helena Simões da Costa Paiva, vice-presidente da Comissão Especializada em Climatério da Febrasgo. Um outro hormônio conhecido é a testosterona. A reposição só é indicada para mulheres que estão com questões sexuais, como diminuição de libido. Comprimido ou gel? A reposição pode ser feita via oral ou pela pele (transdérmica). As especialistas explicam que a mais segura e mais indicada é a transdérmica, para não sobrecarregar o fígado. “O comprimido pela boca passa pelo estômago, vai para o fígado, sofre metabolização e faz sua ação. Daí ele volta para o fígado para ser remetabolizado e ser excretado pela urina e fezes. Quando faço esse caminho com hormônios, eu aumento riscos, principalmente cardiovasculares e de trombose”, diz Fairbanks. O gel deve ser aplicado na superfície de pele mais fina (parte interna dos braços ou coxas). A mulher deve evitar passar no abdômen e na pele da mama. Também há a opção de adesivos. Quando a mulher deve começar a reposição hormonal? Não existe uma idade exata. A mulher deve começar assim que os sintomas começarem a incomodar. Isso pode ocorrer na perimenopausa ou após a menopausa. A dosagem de hormônio vai sendo ajustada de acordo com os níveis hormonais. Por isso, é necessário um monitoramento constante da paciente. “Tem mulher que começam a repor hormônio na perimenopausa. Tem quem procure porque os sintomas pioraram muito nos primeiros anos da menopausa. A gente começa essa reposição em até, no máximo, 10 anos depois da última menstruação”, orienta a vice-presidente da Comissão Especializada em Climatério da Febrasgo. Reposição em gel, creme ou adesivo é mais segura (imagem ilustrativa) — Foto: Nensuria via Freepik Quanto tempo dura a reposição? Não existe um limite de tempo. “Existem mulheres que fazem por 10 anos e não querem parar. Outras acham que não precisam mais”, diz Lucia Helena Simões da Costa Paiva. Sabemos que todos os efeitos adversos e riscos, principalmente de câncer de mama, têm relação com o tempo de uso e dosagem. Se nesse tempo não apareceu nenhuma doença, está tudo bem. Sempre botamos na balança o benefício e o risco do tratamento — Lucia Helena Simões da Costa Paiva Fairbanks acrescenta que o tratamento é individual e a mulher deve ser acompanhada de perto. “Precisa continuar fazendo os exames e, conforme a paciente vai envelhecendo, os hormônios vão sendo ajustados. A ideia é que ela fique com a menor dosagem hormonal para que se sinta bem. Depois, chega um momento que a própria mulher cansa, quando chega nos 65, 70 anos, ela já parou de repor hormônio”. Segundo as especialistas, o efeito da reposição é rápido. A mulher começa a sentir uma diminuição nos sintomas em dias ou semanas. Alternativas para amenizar sintomas Nem todas as mulheres precisam de reposição hormonal. Flávia Fairbanks diz que, em um universo de 100% de mulheres que têm sintomas, 50% vão precisar do tratamento hormonal, que tem uma adesão baixa (não chega a 20% das mulheres que precisam). Para quem não precisa (ou não quer) repor hormônio, outras medidas são essencias para amenizar os sintomas do climatério. Quando o assunto é tratamento NÃO medicamentoso, tudo passa por ele: o estilo de vida. As dicas valem para todas as mulheres: Uma alimentação saudável e controlada, rica em cálcio e proteínaPrática de exercícios físicos que forem pertinentes para a paciente (ideal que pratique 150 minutos por semana)Controle do pesoHigiene do sonoMeditaçãoTerapiaAcupuntura Já os tratamentos medicamentos, não hormonais englobam, principalmente, algumas classes de antidepressivos, que ajudam a tratar as ondas de calor. Também são indicados medicamentos direcionados para o metabolismo ósseo, suplementação de cálcio e vitamina D para mulheres com indicação ou risco para osteopenia e osteoporose, e opções para mulheres com queixas de secura vaginal, irritação e prurido. Um outro medicamento não hormonal, que promete reduzir a intensidade das ondas de calor, já foi aprovado nos Estados Unidos: o fezoniletante. A Astellas, responsável pela fabricação do Veozah (nome comercial), já enviou o pedido de registro para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas o medicamento ainda não foi aprovado.