Presidente eleito do Equador toma posse e promete combater ‘violência e miséria’

Presidente eleito do Equador toma posse e promete combater ‘violência e miséria’

O empresário Daniel Noboa convocou todos a lutarem contra “a violência e a miséria” no Equador ao assumir a Presidência nesta quinta-feira (23), para um mandato de apenas 18 meses, durante os quais também enfrentará instabilidades política e econômica.

“Convido todos a trabalharem juntos para acabar com o inimigo comum: a violência e a miséria”, disse o novo presidente em um breve discurso perante o Congresso, que o empossou.

Noboa foi empossado pelo presidente do Legislativo, Henry Kronfle, em uma cerimônia em Quito que contou com a presença do presidente colombiano, Gustavo Petro.

Auto-intitulado de centro-esquerda e apoiado por forças de direita, o filho do magnata bananeiro Álvaro Noboa assumiu o cargo, aos 35 anos, e se tornou o presidente mais jovem do Equador desde o retorno do país à democracia, em 1979.

Daniel Noboa foi eleito para completar o mandato inconcluso do ex-presidente de direita Guillermo Lasso, que dissolveu o Parlamento em maio e convocou eleições antecipadas para evitar um impeachment por corrupção, impulsionado pela oposição, que formava maioria.

À crise institucional somou-se a violência de gangues de narcotraficantes com poder internacional, resultando em cerca de 3.600 assassinatos neste ano, de acordo com o Observatório Equatoriano do Crime Organizado.

“Para combater a violência, é preciso atacar o desemprego, o país precisa de empregos e, para isso, enviaremos reformas urgentes”, expressou Noboa, que, após tomar posse, se dirigiu à sede do governo, onde centenas de simpatizantes o aclamaram.

Mais tarde, no Palácio de Carondelet, o presidente juramentou cerca de 20 secretários e ministros, incluindo a empresária Gabriela Sommerfeld, designada para a pasta de Relações Exteriores, e o especialista em segurança Giancarlo Loffredo, para a Defesa.

O gabinete, que ainda aguarda o nome de outros ministros, como o da Economia, inclui uma maioria de mulheres e jovens.

“Eles têm a coragem, a convicção, a força de servir ao seu país no pior momento (…) Assumiram a responsabilidade de virar um país que está gravemente ferido”, declarou.

O novo presidente “deve assumir que é um governo de transição (…) e, portanto, deve ser altamente pragmático e realista em relação a suas capacidades e objetivos que vai traçar, para que não volte a gerar frustração nos equatorianos”, disse à AFP o cientista político Santiago Cahuasquí, da Universidade Internacional SEK.

Nascido nos Estados Unidos e formado em renomadas universidades estrangeiras, Noboa é sommelier, sabe de música, tentou ser vegetariano, coleciona pimenta e é apaixonado por carros e cavalos.

Seu pai, que não esteve no Congresso por problemas de saúde, tentou, sem sucesso, tornar-se presidente cinco vezes.

O principal desafio de Noboa será enfrentar as numerosas gangues associadas a cartéis mexicanos e colombianos, que impõem o terror, com corpos desmembrados, queimados e pendurados em pontes.

Entre 2018 e 2022, a taxa de homicídios quadruplicou e subiu para 26 assassinatos por 100 mil habitantes.

Ele também herdará um sistema prisional convulsionado, em que os confrontos entre organizações deixaram mais de 460 mortos desde 2021.

“A tarefa é dura e difícil, e os dias são poucos”, declarou o presidente em referência a seu curto período de governo.

Noboa derrotou no segundo turno, em 15 de outubro, a esquerdista Luisa González, candidata do ex-governante socialista Rafael Correa (2007-2017), com 52% dos votos.

Sobre sua pouca idade, criticada por alguns, o presidente destacou sua “visão renovada”. “Acreditam que a juventude é sinônimo de ingenuidade, para mim é de força”, afirmou diante de vice-presidentes, como o do Brasil, Geraldo Alckmin, e vários chanceleres, incluindo do Panamá, do Peru e da Costa Rica.

O movimento do novo presidente — Ação Democrática Nacional (ADN) — conquistou apenas 17 das 137 cadeiras parlamentares.

Na sexta-feira, Noboa aliou-se ao correísmo (principal força, com 51 cadeiras, e forte crítico de seu pai) e ao Partido Social Cristão (PSC, 18) de direita para criar uma maioria na hora de designar autoridades, como presidente e dois vice-presidentes do Congresso.

O empresário tem uma popularidade de 60%, de acordo com a empresa de pesquisa privada Cedatos, mesmo sendo praticamente desconhecido na política antes das eleições.

Para os equatorianos, os principais problemas são a insegurança (45%), o desemprego (18%), a pobreza (15%) e a corrupção (6%), segundo a Cedatos.

O impacto do fenômeno climático El Niño ameaça agravar ainda mais essa economia dependente do petróleo, que apresenta preços instáveis.

“Ele recebe um país em uma situação econômica bastante complexa, mas também não é a primeira vez que no Equador as transições ocorrem em condições complexas”, explicou o analista Pablo Lucio-Paredes, diretor do Instituto de Economia da Universidade San Francisco de Quito.

Para 2024, ano eleitoral no Equador, haverá um déficit orçamentário de US$ 5 bilhões (R$ 24,5 bilhões, 4% do PIB) e uma necessidade de financiamento de US$ 10 bilhões (R$ 49 bilhões, 8%), aponta o especialista.

Da população de 16,9 milhões, 3,1 milhões têm emprego, enquanto a pobreza afeta 38%, de acordo com dados oficiais.

Noboa terá que decidir se reduz os gastos, aumenta as receitas com mais impostos ou obtém financiamento externo, uma vez que a dívida pública representa quase 40% do PIB (US$ 47,54 bilhões, ou R$ 233,31 bilhões).

Especialistas consideram que esse mandato será uma espécie de pré-campanha com vistas às eleições de fevereiro de 2025, das quais Noboa pretende participar.

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