Cada vez mais, podemos ver que a Covid-19, após cerca de dois anos pandêmicos e algumas doses de vacinas, está se tornando uma doença que, embora ainda cause mortes, deixa de ser uma emergência e passa a ser uma enfermidade que faz parte do dia-a-dia das pessoas. O vírus segue o mesmo curso de outra pandemia, considerada uma das mais mortais da história: a Gripe Espanhola. • Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo Telegram • Assine a newsletter R7 em Ponto Para explicar o curso da doença, e como elas se encontram, é preciso voltar ao passado. Em 1918, um vírus de gripe — a Influenza A, provocada pelo vírus do H1N1 — passou a se disseminar nos Estados Unidos. Em meio à Primeira Guerra Mundial, a Europa optou por não divulgar informações da enfermidade, que já matava mais pessoas do que o próprio combate, de modo a não minar a moral das tropas. Assim, a Espanha, que não fazia parte do conflito, se encarregou de noticiar a doença, originando, então, o nome de gripe espanhola. A pandemia teve fim em 1919. De acordo com o portal da Câmara Municipal de São Paulo, estima-se que a gripe espanhola tenha afetado um terço da população mundial e matado de 20 a 50 milhões, com estudos recentes citando 100 milhões de mortos — enquanto a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) levou quatro anos para matar 8 milhões de pessoas. “A Gripe Espanhola foi causada por um vírus da Influenza A, o H1N1, e é interessante se pararmos para pensar que, em 2009, tivemos novamente um alerta [pelo H1N1]. O vírus pode até ter partes da cepa de 1918 mas, ao conviver com a comunidade e circulando pelo mundo, acaba sofrendo mutações e incorporando DNAs diferentes. Inclusive, o vírus que temos atualmente, deve ter coisas em comum com o de 1918, mas que, com certeza passou por muitas mutações, com um grande vai e vem”, explica o infectologista João Prats, da BP -A Beneficência Portuguesa de São Paulo. A infectologista do Hospital Nove de Julho, Sumire Sakabe, afirma que, no século 20, houve a ocorrência de três pandemias causadas pela influenza: a da Gripe Espanhola, em 1918, com o H1N1; a Gripe Asiática, em 1957, com o H2N2; e a Gripe de Hong Kong, em 1968, com a H3N2. Vírus descendentes do H1N1 circularam até 1957, quando foram substituídos pelo H2N2. O primeiro voltaria a aparecer, então, no final da década de 70, e seguindo como responsáveis por boa parte dos casos de influenza sazonal ainda hoje. Sumire ressalta, no entanto, que a cepa circulante do H1N1 que causou a Gripe Espanhola já não circula mais, na atualidade. O fato foi comprovado a partir do sequenciamento de amostras do vírus coletadas no tecido pulmonar de vítimas da época. A otorrinolaringologista Maura Neves, da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), alega que a contenção da Gripe Espanhola se deu por meio do uso de máscaras, isolamento social e incentivo a quarentena por ter sido identificada como uma doença contagiosa — mesmas estratégias adotadas no início da pandemia de Covid-19, quando ainda não havia vacina. Ela complementa que, parte da alta mortalidade relacionada ao vírus se deu por conta de complicações do H1N1, que levaram à pneumonias bacterianas, em uma época em que não havia antibióticos para tal combate. Maura diz que o vírus influenza H1N1 tem mutações sazonais, podendo, eventualmente apresentar uma nova mutação mais virulenta. Porém, por já fazer parte das vacinas das campanhas de gripe anuais (que contém as cepas mais recentes, circulantes no ano anterior) e com os avanços médicos, é possível um enfrentamento mais rápido, além de remédios eficazes. “A vacina influenza é produzida a partir de vírus inativados e fragmentados, o que significa que contém somente vírus mortos, não podendo causar a doença. Ela estimula a produção de anticorpos contra uma proteína expressa na cepa. Dessa forma, quando o vírus penetra o corpo, o organismo detecta sua presença e os anticorpos o neutralizam, prevenindo a infecção. A resposta imunológica ocorre em até duas semanas depois da vacinação”, finaliza a otorrinolaringologista Roberta Pilla, da ABORL-CCF.