Um relatório conjunto da OMS (Organização Mundial da Saúde), da Federação Internacional de Diabetes e da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, ressalta mais um benefício ao parar de fumar: redução de 30% a 40% do risco de desenvolver diabetes tipo 2, uma doença metabólica crônica com significativo impacto no sistema de saúde. • Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo Telegram • Assine a newsletter R7 em Ponto No Brasil, os dados mais recentes do inquérito telefônico de Vigitel (Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas) mostram que 10,2% da população tem diabetes. Além disso, 90% dos portadores da doença no país apresentam o tipo 2, que surge quando o corpo desenvolve resistência aos efeitos da insulina, frequentemente associada a maus hábitos e um estilo de vida sedentário. O número de casos tem aumentado, inclusive entre os mais jovens. Segundo a OMS, o diabetes é a nona causa de morte no mundo e é uma doença que poderia ser evitada com mudanças básicas de estilo de vida, como não fumar, praticar atividades físicas e manter uma alimentação saudável. “O tabagismo é um dos fatores de risco modificáveis mais importantes para o diabetes, ao lado da obesidade e do sedentarismo, que impactam diretamente no aumento de risco da doença”, afirmou o endocrinologista Clayton Macedo, que coordena o Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein. O relatório, divulgado em novembro deste ano, ressalta que o cigarro exerce influência na capacidade do organismo de controlar os níveis de açúcar no sangue, aumentando o risco de complicações associadas ao diabetes, como problemas cardiovasculares, insuficiência renal e cegueira. Além disso, o documento afirma que o tabagismo retarda o processo de cicatrização de feridas em pacientes com diabetes, o que eleva o risco de amputações de membros. “Esse relatório é muito importante porque consolida os dados de literatura que mostram o risco aumentado entre 30% e 40% de a pessoa fumante desenvolver diabetes. E o risco de desenvolver a doença não é só para quem fuma. Existe uma associação de aumento de risco de diabetes também para a pessoa que convive com o fumante e está exposta ao tabagismo passivo”, alertou Macedo. O médico ressalta que, apesar de o risco de desenvolver diabetes tipo 2 diminuir com a cessação do tabagismo, ele ainda persiste nos primeiros cinco a dez anos após a interrupção do hábito de fumar. Portanto, quanto mais cedo a pessoa parar de fumar, melhor. Mecanismo do cigarro no diabetes De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, diversos estudos têm investigado os mecanismos que contribuem para o aumento do risco de complicações em pessoas com diabetes que são fumantes. Entre eles, destacam-se obesidade central, concentrações elevadas de cortisol, aumento de marcadores inflamatórios e do estresse oxidativo. Além disso, a nicotina parece se ligar aos receptores nicotínicos das células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina, reduzindo assim a secreção desse hormônio. “O cigarro aumenta a resistência à insulina ao diminuir a sua ação periférica. Por isso, o fato de a pessoa fumar faz com que ela tenha um pior controle da glicose. A ação do tabaco potencializa o risco de a pessoa desenvolver diabetes ou descompensar a doença”, disse Macedo. A cardiologista Jaqueline Scholz, especialista em tratamento do tabagismo e assessora científica da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), explica ainda que o tabagismo causa danos vasculares (disfunções do endotélio, que é a parede dos vasos) e altera o perfil dos lipídios no sangue: aumenta o colesterol ruim e diminui o colesterol bom, favorecendo a formação de placas que vão aumentar o risco de doenças cardiovasculares. “A cessação do tabagismo é uma necessidade em qualquer situação. Mas naquelas pessoas onde existe uma condição de saúde associada, como o diabetes ou a hipertensão, é obrigatório parar de fumar porque o benefício e o impacto à saúde são multiplicados, e o risco, reduzido de forma intensa. Parar de fumar é absolutamente necessário a todos e, entre quem tem diabetes, deve ser uma prioridade”, afirmou a cardiologista. Segundo Macedo, o fumante com diabetes enfrenta diversos riscos aumentados, incluindo a ampliação de 44% no risco de desenvolver doença cardiovascular, 51% mais propensão a desenvolver doenças coronarianas, 54% mais suscetibilidade a sofrer um AVC (acidente vascular cerebral), e um acréscimo de 43% no risco de insuficiência cardíaca. “O pior de todos é o risco da doença arterial periférica, como a isquemia dos membros inferiores. Nesses casos, o risco é 2,15 vezes maior do que de uma pessoa com diabetes que não fuma”, alertou ele, e acrescentou que o risco de morrer da doença é mais do que seis vezes maior entre fumantes com diabetes do que entre quem tem diabetes e não fuma.