A meta de déficit zero para 2024 continua gerando divergências dentro do PT. Neste sábado (9), na conferência eleitoral do partido em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, discordaram sobre a relação entre o resultado primário e o crescimento da economia. Enquanto Haddad diz que não existe correspondência entre déficit e avanço do PIB, Gleisi criticou a meta zero e defendeu sua flexibilização. Haddad explicou a uma plateia de filiados ao partido que essa relação não é automática e citou como exemplo as gestões anteriores de Lula, em que houve superávit primário de 2%, e a economia cresceu, em média, 4%. Ele lembrou que Gleisi havia falado, mais cedo, que o déficit de 2023 se aproximava de 2%. “Não é verdade que déficit faz crescer. De dez anos para cá, a gente fez R$ 1,7 trilhão de déficit, e a economia não cresceu. Não existe essa correspondência, não é assim que funciona a economia. Depende, dependendo da situação econômica você tem que ampliar os investimentos”, disse, e citou a expansão de gastos de 2009, na esteira da crise econômica global de 2008. Um pouco mais cedo, Gleisi havia destacado medidas tomadas anteriormente por Lula, como a ampliação das reservas cambiais e o aumento do investimento estrangeiro no país, para dizer que confiança “não tem nada a ver com o fiscal”. “Esse ano faremos déficit de quase 2% do PIB”, disse. O Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do quinto bimestre ampliou a estimativa de déficit primário total de 2023 para R$ 177,4 bilhões (1,7% do PIB). No relatório bimestral de setembro, a estimativa de rombo total era de R$ 141,4 bilhões (1,3% do PIB). A meta de resultado primário do governo central deste ano é de saldo negativo de até R$ 213,6 bilhões (2% do PIB), no valor ajustado divulgado neste documento, mas a Fazenda chegou a prometer no começo do ano um rombo bem menor, de 1% do PIB, ou cerca de R$ 100 bilhões. Gleisi disse que este governo fez campanha política com discurso expansionista, e que o mercado já sabia o que seria feito. Ela voltou a dizer que a política monetária está fora do alcance de gestão do governo, mas a política fiscal está. “Por que vamos nos impor um autolimite quando não precisamos disso? Vamos sair de um déficit de quase 2% para um déficit zero, temos de colocar isso”, disse a Haddad. Haddad disse que, apesar de terem pontos de vista diferentes, o foco do debate não era a discordância entre ele e Gleisi. O ministro da Fazenda defendeu uma pactuação do Orçamento, privilegiando a qualidade do gasto, e reconheceu que a política monetária tem uma gordura maior para cortar do que a fiscal. “Graças a nossa política, o BC ficou constrangido a baixar os juros; fez isso pelas circunstâncias. Com o dólar caindo, a inflação acomodando, qual é a justificativa para manter a taxa de juros?”, disse. O ministro afirmou, no entanto, que a conjuntura é complexa, e o governo não ganhará por nocaute nem bala de prata, defendendo a ideia de que o governo está colocando as coisas nos devidos lugares. Ele também defendeu o papel da Fazenda na negociação e disse que, com os assuntos muito técnicos, qualquer vírgula pode significar bilhões. “Eu acho que a gente consegue apertar os parafusos de um jeito que o juro cai, economia cresce, resolve algum nó tributário, de quem não paga funcionário, traz para dentro do sistema. Mas não tem bala de prata, não existe. É um conjunto de medidas que têm de ser tomadas para organizar uma saída para fazer a economia crescer com consistência”, disse. Copyright © Estadão. Todos os direitos reservados.