O influenciador fitness Renato Cariani, de 47 anos, suspeito de envolvimento em um esquema que teria desviado 12 toneladas de produtos químicos para a produção de crack e cocaína, se tornou famoso por promover um estilo de vida saudável, a prática do fisiculturismo e a divulgação de suplementos alimentares. Mas o uso desses produtos faz bem ou mal à saúde? Depende da dose. Segundo especialistas ouvidos pelo R7, a suplementação é saudável, mas precisa ser feita com orientação médica e sem exageros. Do contrário, pode alterar os níveis de glicemia e sobrecarregar órgãos importantes do corpo humano. • Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp • Compartilhe esta notícia pelo Telegram • Assine a newsletter R7 em Ponto A nutricionista Gabriela Cilla frisa que a suplementação tem seu uso orientado já no próprio nome. Ou seja, só deve ser realizada quando o aporte nutricional pela alimentação não for adequado, necessitando de produtos que reponham a quantidade da substância faltante. Do contrário, o uso de produtos como whey protein e creatina pode acarretar aumento ou queda de glicemia e sobrecarga de órgãos-alvo, como os rins, pelo excesso de proteínas; o coração, no uso de suplementos estimulantes; o estômago, pela produção excessiva de ácido gástrico; e o fígado, que é responsável pela metabolização das substâncias. Cilla diz ainda que o uso de suplementos não é crônico, não deve ser mantido a longo prazo, e precisa ter data de início e fim. E que pessoas com níveis altos de colesterol, diabetes e hipertensão precisam de maior cuidado ao utilizar tais substâncias. “Suplementos estimulantes, como a cafeína e a arginina, embora tragam foco rapidamente, não são recomendados para quem tem problemas cardíacos, hipertensão ou ansiedade. Nos rins, por exemplo, é mais provável que desenvolvam pedras pelo excesso proteico. Dificilmente poderiam levar à necessidade de diálise, seria preciso uma quantidade exorbitante de proteínas para isso, ou se [o usuário] já tiver uma doença preexistente no órgão”, complementa a nutricionista Thaís Barca. Pacientes com DRC (doenças renais crônicas) também são orientados a não usar suplementos, como a creatina e o whey protein, pois o aumento da quantidade de proteínas no organismo faz com que haja uma piora na função renal, esclarece a nefrologista Milena Vasconcelos, do hospital Beneficência Portuguesa. Pacientes saudáveis podem consumir esses suplementos, desde que haja ingestão adequada de água. Para saber a quantidade adequada, Thaís Barca indica que é necessário multiplicar o peso corporal por 40. O resultado será a quantidade ideal de consumo de água diário de cada um, lembrando que, quanto mais suplementos uma pessoa usa, mais água deve ser ingerida. A dica dos médicos para a utilização segura é que, além do uso de quantidades dos suplementos conforme a orientação, é importante fazer exames para atestar que não há nenhuma lesão no rim que possa ser piorada pela utilização de tais produtos. Benefícios dos suplementos O suplemento é um produto que vai fornecer nutrientes que não estão sendo ofertados na quantidade adequada com a dieta de cada paciente. “O principal é saber o que indicar, para quem e a dose, sem que a suplementação seja feita de forma autônoma pelo paciente. Outro fator que deve ser sempre avaliado é a qualidade do produto”, alerta a nefrologista Milena Vasconcelos. A nutricionista Gabriela Cilla lembra que nenhum suplemento é recomendado de maneira avulsa, sem o exercício, a menos que haja completa necessidade. Já a nutricionista Thaís Barca explica que há casos em que a pessoa não faz exercícios físicos, mas pode ter a indicação de uso. Isso acontece quando o paciente não consegue atingir o nível de proteína somente pela alimentação, para manter a massa muscular, como idosos ou mulheres na pós-menopausa, ou a creatina no caso de pacientes neurológicos. A indicação deve ser individualizada, levando sempre em conta necessidades, comorbidades e idade de cada paciente. Veja abaixo os benefícios de cada suplemento: Whey protein É uma proteína derivada do soro do leite, considerada uma fonte de proteína completa, pois contém todos os aminoácidos essenciais necessários para o corpo humano. Pode ser apresentado de diversas formas: whey protein isolado; whey protein concentrado; whey protein hidrolisado; 2W (combinação de isolado + concentrado); 3W (isolado + concentrado + hidrolisado); proteína vegetal (proteína da ervilha, do arroz, semente de abóbora); Body Protein (patente: peptídeos de colágeno com fonte otimizada de aminoácidos); ou proteína da carne. Todas essas formas têm excelente biodisponibilidade (boa absorção pelo organismo). A suplementação de proteína é feita quando o paciente não ingere toda a necessidade diária de proteína por meio de alimentos, ou quando, por praticidade, ele não terá tempo ou local para preparar sua refeição. Pode ser utilizada para controle de peso, manutenção de massa muscular e outros tecidos, recuperação muscular ou hipertrofia, aumento da síntese proteica e até modulação de sistema imunológico. Creatina É um composto natural encontrado principalmente na carne vermelha e nos peixes. Desempenha papel crucial na produção de energia durante atividades físicas de curta duração e alta intensidade. Armazenada nos músculos esqueléticos na forma de fosfocreatina, é importante no sistema de energia conhecido como sistema fosfagênico. Os benefícios da suplementação com creatina são: • Aumento da força e potência muscular, principalmente em atividades de alta intensidade, como levantamento de peso e treinamento de explosão; • Melhoria no desempenho durante o exercício de alta intensidade, como exercícios explosivos de curta duração, como sprints e levantamento de peso; • Promoção da retenção de água nas células musculares, resultando em um aumento do volume muscular. Efeito que, além de estético, pode contribuir para o estímulo do crescimento muscular (hipertrofia) e a recuperação muscular; • Benefícios cognitivos, podendo ter efeitos positivos na saúde cerebral. Porém, mais estudos são necessários para entender completamente esses benefícios. BCAAs Também chamados de aminoácidos de cadeia ramificada, são um grupo de aminoácidos essenciais composto de leucina, isoleucina e valina. Benefícios da suplementação: • Estímulo à síntese proteica, processo essencial para o crescimento, manutenção e reparo muscular (principalmente a leucina); • Redução da proteólise (degradação de proteínas musculares durante o exercício), principalmente associado a dietas hipocalóricas (restrição calórica); • Recuperação muscular; • Excelente em casos de emagrecimento rápido, como o causado pela cirurgia bariátrica, pois a absorção é facilitada. É importante ressaltar que uma dieta equilibrada que inclua fontes adequadas de proteína já fornece uma quantidade suficiente de BCAAs. No entanto, em certas situações, como treinamento intenso ou dietas específicas, a suplementação com BCAAs pode e deve ser considerada. Glutamina É um aminoácido não essencial, que o corpo humano pode sintetizar internamente, e também é obtido através da dieta. Os benefícios da glutamina (seja a sintetizada naturalmente no organismo ou por suplementação) são: • Suporte ao sistema imunológico; • Manutenção da integridade da mucosa gastrointestinal. Apesar dos benefícios, a glutamina não é essencial para todos, pois o corpo produz quantidades adequadas desse aminoácido. Sendo assim, a suplementação geralmente é considerada em situações específicas, como recuperação pós-cirúrgica ou estresse físico intenso. Caseína É uma proteína presente no leite e seus derivados, representando aproximadamente 80% das proteínas contidas no leite de vaca. Conhecida por sua digestão lenta e pela liberação gradual de aminoácidos, é isso que a distingue de outras proteínas, como o soro do leite (whey protein). A caseína é frequentemente comercializada como suplemento de proteína em pó, e a forma mais comum é a caseína micelar. Benefícios: • Suporte à síntese proteica: fornece aminoácidos essenciais que são fundamentais para a síntese de proteínas musculares, importantes para o crescimento, reparo e manutenção dos tecidos musculares; • Saciedade, devido à digestão lenta, o que pode ser benéfico para aqueles que estão buscando controlar o apetite e reduzir a ingestão calórica; • Utilização em produtos alimentícios: por ser uma fonte proteica com baixo custo, frequentemente é utilizada na indústria de alimentos para melhorar a textura e a consistência de produtos como queijos, iogurtes, sorvetes e outros alimentos processados. A caseína não deve ser indicada para pessoas com intolerância à lactose ou com APLV (alergia à proteína do leite de vaca). Carnitina É um composto natural produzido pelo corpo a partir dos aminoácidos lisina e metionina. Curiosidade: a combinação brasileira de arroz e feijão fornece as quantidades necessárias de lisina e metionina. Sua principal função é facilitar o transporte de ácidos graxos para a matriz mitocondrial, onde ocorre a produção de energia na forma de ATP. Benefícios: • Metabolismo de gorduras e produção de energia: facilita o transporte de ácidos graxos através da membrana mitocondrial interna, permitindo que eles sejam convertidos em energia, especialmente durante atividades físicas de intensidade moderada a alta; • Recuperação muscular: estudos mostram que a carnitina pode desempenhar um papel na redução do dano muscular induzido pelo exercício e na promoção da recuperação muscular; • Alguns estudos mostram efeito positivo na suplementação prolongada (acima de 60 a 90 dias) para que sejam notados os efeitos benéficos. L-arginina A arginina é um aminoácido considerado “semiessencial”, ou seja, em algumas situações, o corpo pode não produzir quantidades adequadas, sendo necessária sua obtenção através da dieta ou suplementação. Benefícios: • Precursor do óxido nítrico (NO), molécula importante para a dilatação dos vasos sanguíneos, podendo ter efeitos positivos para a saúde cardiovascular, devido à redução da pressão arterial; no entanto, ainda são necessários mais estudos para comprovação desse benefício; • Melhora do desempenho físico: o aumento do fluxo sanguíneo pode aumentar a entrega de nutrientes e oxigênio aos músculos durante o exercício; • Recuperação muscular: devido ao aumento do fluxo sanguíneo nos músculos, facilita a entrega de nutrientes e a remoção de resíduos metabólicos; • Estímulo ao sistema imunológico: a arginina desempenha um papel no sistema imunológico, contribuindo para a função adequada dos linfócitos T, que são células do sistema imunológico; • Produção de creatina: a arginina é um dos aminoácidos necessários para a síntese de creatina. Apesar desses benefícios, é importante ressaltar que a eficácia da suplementação de arginina pode variar de pessoa para pessoa e nem todos podem apresentar os mesmos resultados. Além disso, a arginina pode interagir com certos medicamentos, e a suplementação deve ser feita sob a orientação de uma nutricionista e médico. ABC dos suplementos esportivos: quais existem e quais devo usar no treino?