Como corrente de oração ajudou família a superar afogamento de criança no interior de SP

Como corrente de oração ajudou família a superar afogamento de criança no interior de SP

Mas, para os pais Vanessa Garcia Rizzi Mussi e Lucas Daniel Newton Mussi, o tempo em que tudo ocorreu durou uma eternidade. O acidente aconteceu no dia 21 de abril deste ano. Por 14 dias, Alice ficou internada, 13 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Tudo indicava um fim trágico e doloroso, mas, nesta história, venceu a fé e a insistência da família, de amigos, de conhecidos e até mesmo de desconhecidos, que se uniram em uma corrente de oração com um único propósito: a vida de Alice. Alice, de 3 anos nada em piscina onde se afogou em Ribeirão Preto, SP — Foto: Cristiane Zambroni/g1 A iniciativa partiu de Stella Santini, amiga dos pais de Alice, que pediu, em uma rede social, orações pelo ‘pulmão de uma criança de 3 anos’. Este foi o ponto inicial de uma mobilização gigantesca. A partir de então, o hospital onde Alice estava internada passou a ser ponto de encontro de pessoas que rezavam, cantavam e pediam pela cura da criança. Alice ficou internada 13 dias na UTI de hospital de Ribeirão Preto, SP — Foto: Arquivo Pessoal Ao g1, Vanessa contou, emocionada, que a médica que estava cuidando de Alice, chegou a dizer que ‘tinha mais fé do que todos que estavam do lado de fora do hospital’. “Foi muito forte para mim. Na verdade, aquilo significou muito. Ela [médica] estava com esperança, então, tinha uma luz no fim do túnel. Foi aí que tive certeza de que a fé realmente poderia transformar os prognósticos médicos daquele momento. Aí falei ‘que bom, então a senhora vai salvar minha filha’”. Vanessa e Lucas estiveram ao lado de Alice o tempo todo em que ela esteve internada. Durante o período, eles faziam orações para a filha, conversavam, cantavam e colocavam músicas religiosas para que ela pudesse ouvir. Vanessa acompanhou todo o tratamento de Alice, em hospital de Ribeirão Preto — Foto: Arquivo Pessoal Para eles, mesmo entubada e com vários equipamentos de monitoramento hospitalar, Alice confirmava que sabia o que eles faziam e falavam. “Ela começou a ter alguns estímulos que a gente pedia e ela fazia. Ou por movimentos ou até mesmo pelos batimentos cardíacos. Coloquei uma música que Alice ouvia indo para a escola. Nossa! Essa menina levantou os braços, as pernas, disparou os equipamentos. Pensei ‘ela está reagindo”‘, disse o pai. “Eu fui falando para ela ‘eu estou desse lado, você levanta a mão desse lado’, aí ela mexia a mão do lado correto”, conta Vanessa. ‘É milagre’ A médica Roseli Scarpa foi responsável pelo atendimento à Alice logo que a menina deu entrada na UTI, em estado grave. “Ela deu entrada já com ventilação mecânica e sinais clínicos de comprometimento do sistema nervoso central por hipoxia [baixa concentração de oxigênio do sangue] determinada pelo afogamento. Foram tomadas medidas terapêuticas protocolares para o caso, incluindo medidas protetivas do Sistema Nervoso Central (SNC). Evoluiu com boa resposta, além das expectativas médicas”. Para Roseli, considerando a forma que Alice chegou e a forma como o quadro dela evoluiu positivamente, uma única resposta se faz necessária: foi um milagre. “Nós médicos somos apenas instrumentos de Deus nessa terra, cuja missão que nos foi dada é salvar vidas”. Roseli Scarpa é responsável pela Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Ribeirão Preto — Foto: Arquivo Pessoal Sem traumas e ciente do que passou Apesar de ter apenas 3 anos, Alice sabe o que ocorreu com ela e fala com naturalidade sobre o assunto. “Me afoguei e fui para o hospital. Eu vi o Ravi [bebê que estava internado na UTI], a mamãe, a tatá [tia] e o papai”, conta a criança ao g1. Quando questionada se sabia que ia voltar para casa, ficar com o irmão e o que ela sentia sobre isso, disse que estava feliz e que ela é um milagre. Ao g1, os pais de Alice contaram também como foi a primeira vez que ela entrou na piscina após o acidente. “Ela falou ‘papai posso nadar?’. Eu olhei, né, falei ‘se você quiser, pode, mas está gelada a água’. Ela falou ‘eu quero, quero’. Aí eu olhei assim, mas por dentro. Eu fiquei olhando apaixonado. Filmei e mandei para Vanessa, que estava fora da cidade”, lembra Lucas. Vanessa conta que estava almoçando quando recebeu o vídeo, e começou a chorar. Alice, que se afogou em abril deste ano em Ribeirão Preto, encara a piscina com naturalidade — Foto: Cristiane Zambroni/g1 Como ocorreu o acidente Lucas e Vanessa contam que a família estava reunida, conversando em um dos cômodos da casa. Ele estava marcando o tempo de inalação do filho mais velho, Paulo Neto. Foi neste momento que o avô paterno das crianças, que estava de visita, perguntou sobre a menina. Família de Alice, que sobreviveu a afogamento em Ribeirão Preto, SP — Foto: Cristiane Zambroni/g1 “Meu pai falou ‘nossa, cadê a Alice?’ O primeiro lugar que saímos correndo foi para a piscina. Aqui tem tela [ao redor da piscina], só que naquele dia estava sem, porque o Paulo Neto queria jogar tênis na parede, brincar de paredão. Brincou de manhã, saímos para almoçar, voltamos e aconteceu”, conta Lucas. Vanessa lembra do grito que Lucas deu e que, a partir daí, teve a sensação de que havia perdido a filha. “Ele deu um grito muito de terror e de dor. Na minha cabeça, eu o vi dando um salto de onde estávamos, pulando dentro da água. Aí eu sai correndo e o vi tirando ela da água. Ela estava sem batimentos, estava branca, com as extremidades roxas e aí, ela ‘estava no céu'”, desabafa a mãe, emocionada. Em detalhes, ela conta o que sentiu naquele momento. “Eu tinha certeza [que a menina havia morrido], não tinha como, ela saiu sem vida da água. E, então, comecei sentir que ela não estava mais aqui. Eu nem vi o Lucas tentar fazer os primeiros socorros nela, porque, para mim, nem tinha essa possibilidade. Eu fiz muitos treinamentos de primeiros socorros e ele nunca tinha feito nada e na hora veio um anjo e ele começou a fazer os primeiros socorros nela”. Os anjos na vida de Alice Mesmo sem saber como eram os primeiros socorros e só se lembrar de cenas de filmes e séries, Lucas foi o primeiro a começar os procedimentos na tentativa de salvar a filha. Lucas foi quem tirou a filha da piscina após afogamento em Ribeirão Preto, SP — Foto: Cristiane Zambroni/g1 “Eu tirei ela da piscina, comecei a fazer o que dava. Eu tinha medo de machucar ela por dentro. Massageei, fiz respiração boca a boca. Aí um vizinho pulou o muro e começou a ajudar até a chegada da equipes do Samu e do Corpo de Bombeiros”. Ele se sente um herói por ter salvado a vida da filha. Mas, para a esposa ele foi o primeiro anjo dessa história de milagre e superação. “Eu falo que ele foi o primeiro anjo, mas o Lucas reforça que o pai dele foi o primeiro por perguntar pela Alice. Então, ele foi o segundo de uma série de anjos na vida da Alice”. Agradecimentos e promessas Durante todo o período que Alice esteve internada, várias pessoas fizeram promessas e votos para a cura da menina, independentemente de religião ou crença. Em agradecimento, a família tentou estar presente junto com Alice em lugares onde fieis se uniram em oração. Um deles foi o Santuário de Santa Rita de Cássia, em Cássia (MG). Alice foi vestida como a santa, que é conhecida pelas causas impossíveis. “[No socorro] Eu sai de casa correndo, não peguei nem um terço, nem bolsa. E a primeira imagem que recebi foi de Santa Rita, que uma amiga muito próxima me deu. Eu não largava ela [imagem] para nada. Essa minha amiga fez a roupa de Santa Rita para a Alice e para a filha dela e fomos até lá”. Família foi para Cássia (MG) agradecer pela vida de Alice — Foto: Arquivo Pessoal Após o acidente com a menina, a família montou um altar em casa com imagens e objetos religiosos que foram ganhados. Entre eles está uma mensagem do papa Francisco, que foi emoldurada. Família montou altar em casa após acidente com Alice, em Ribeirão Preto — Foto: Cristiane Zambroni/g1 Comunidade de oração Em meio a tantas orações enviadas à Stella por meio das redes sociais, pessoas que acompanharam o quadro evolutivo de Alice passaram a pedir orações aos filhos, netos e entes queridos. Diante disso, Vanessa e Stella decidiram criar uma comunidade pelo WhatsApp para, assim como no caso de Alice, várias pessoas de vários lugares do Brasil pudessem se unir em oração para ajudar outras pessoas. “Hoje temos mais de 1,2 mil pessoas que enviam mensagem pedindo oração ao filho, aos netos. Cada vez que a gente coloca a oração para as pessoas lá, em algum lugar, alguém fica em paz”, diz Stella. Afogamento é principal causa de morte em crianças Dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apontam que o afogamento é a primeira causa de morte em crianças entre 1 e 4 anos, a segunda causa de morte em crianças entre 5 e 9 anos e a terceira em crianças entre 10 e 14. Ainda de acordo com a SBP, para cada criança que morre por afogamento, inúmeras sobrevivem. Destas, muitas apresentarão sequelas, desde alterações neurológicas leves (distúrbios de memória e de aprendizado, por exemplo) até quadros de lesões neurológicas graves (coma, estado vegetativo persistente). Há, sim, a possibilidade de sair de um acidente como este sem sequelas, como foi o caso de Alice. Mas as chances são pequenas. Vídeos: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

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