“Se a gente não está aguentando o calor e tem, pelo menos, um ventilador em casa, imagina a população carente que nem isso tem”, alerta a geógrafa Juliana Ramalho Barros. Goiás teve quatro ondas de calor neste ano, de acordo com informações do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo). A primeira foi entre os dias 18 e 28 de setembro, a segunda foi entre 13 e 20 de outubro, a terceira entre 9 e 19 de novembro e, por fim, do dia 15 a 17 de dezembro. O destaque vai para Aragarças, que no dia 26 de setembro registrou 42,1ºC. LEIA MAIS SOBRE A ONDA DE CALOR: Diante de tanto calor, este ano, novembro foi um dos mais quentes da história do estado, afirma o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Neste mês foram emitidos cinco alertas: três amarelos e dois vermelhos. Goiás também teve o segundo setembro mais quente dos últimos 86 anos. O gerente do Cimehgo, André Amorim, explica como funcionam as ondas de calor. “As ondas de calor são quando as temperaturas mínimas e máximas estão 5ºC acima da média. É como uma bolha quente: tem calor de dia e de noite”, afirma. Relembre fatos marcantes do calor de 2023, em Goiás — Foto: Montagem/g1 Goiás Relembre fatos marcantes do calor de 2023, em Goiás: Na penúltima semana de setembro, os goianos sofreram com a primeira onda de calor deste ano. Então, um morador de Anápolis, a 55 km de Goiânia, teve uma ideia: tentar fritar um ovo e derreter um pedaço de queijo na calçada de casa. Para isso, foi necessário só usar uma panela para o queijo e uma frigideira e uma placa de metal exposta para o ovo (assista o vídeo). Calor em Goiás frita ovo e derrete pedaço de queijo em frigideira colocada em calçada 2. Mulher de biquíni na rua Ainda na primeira onda de calor, uma mulher desistiu de lutar contra o calor e, simplesmente, decidiu sair andando na rua usando apenas um biquíni (assista abaixo). A situação aconteceu na Avenida T-13, no Setor Bela Vista, em Goiânia, e teve mais de 25 mil visualizações nas redes sociais. “Com um calor desse, está mais que certa”, comentou outra mulher nas redes sociais. Mulher viraliza ao andar de biquíni no meio da rua em Goiânia 3. Termômetro de rua marca 45°C Que fez calor este ano todos os goianos sentiram, mas o que assustou os moradores de Jussara, no oeste de Goiás, foi um termômetro de rua que chegou a marcar 45ºC. A sensação escaldante foi registrada no dia 14 de novembro. Neste dia, o Cimehgo informou que cidades goianas registraram até 42°C e explicou que o termômetro é feito de metal e, por isso, registrou uma temperatura tão alta. Termômetro de rua em Jussara marca 45°C — Foto: Reprodução/TV Anhanguera 4. Calor ‘derrete’ caixa d’água? A primeira onda de calor em setembro chegou fazendo estragos em Goiás. Um vídeo feito nesse período mostra uma caixa d’água deformada, em Goiânia. “Nunca tinha visto, achei estranho, achei que podia ter derretido, como o calor estava forte”, disse o empresário Marcos Cintra, de 42 anos. Apesar disso, uma especialista explicou que o calor não conseguiria fazer isso, pois o material suporta até 130°C. A possível razão para a deformação é a instalação incorreta. Vídeo mostra caixa d’água deformada durante onda de calor em Goiânia — Foto: Arquivo Pessoal/Marcos Cintra 5. “Protetor solar” para plantas O calorão não afetou apenas as pessoas, mas a produção agropecuária do estado. Com termômetros marcando mais de 40ºC em setembro, os agricultores e pecuaristas ficaram preocupados com as plantações e o gado. Para tentar driblar a queda na produção, eles investiram em medidas, como por exemplo, o “protetor solar” para as plantas e áreas climatizadas para o gado. Folhas sem proteção e com ‘protetor solar’, em lavoura de Goiás — Foto: Diogo Alfaix/Arquivo Pessoal Alertas de calor A Defesa Civil diz que este foi o ano em que eles emitiram o maior número de alertas de calor. “2023 foi atípico: nós emitimos dois ou três alertas por ano e, neste, foram oito, sendo três de risco muito alto”, destacou o comandante de Operações de Defesa Civil (Codec), Pedro Carlos Borges. Ele explica que os alertas são emitidos quando a temperatura está 5ºC acima da média por mais 5 dias. “Esse ano foi recorde e, por isso, enviamos diversas orientações à população: se hidratar, evitar atividades físicas e procurar locais arejados”, disse. Dos oito alertas emitidos, cinco foram laranja e três vermelhos (veja explicação abaixo). Todos foram de setembro a novembro e quatro foram para todo o estado. “Foi uma situação bastante crítica e totalmente atípica, pois nós nunca passamos por essa situação em Goiás”, disse. Borges afirma ainda que este é um aviso para a população se preparar para os próximos anos. Defesa Civil emitiu oito alertas por causa do calor, em 2023 — Foto: Divulgação/Defesa Civil Enxergar a população vulnerável A geógrafa Juliana Ramalho Barros, que trabalha no Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que, normalmente, nos lembramos das pessoas em situação de vulnerabilidade social durante o período de chuva, mas destaca que elas também sofrem com o calor e são ‘esquecidas’ durante esses períodos de altas temperaturas. “Foi um calor extremo e nós temos uma parcela da população que não tem acesso a um ventilador, por exemplo”, enfatiza. Ramalho detalha que essas pessoas vivem em casas precárias, nas ruas ou famílias grandes que moram em residências pequenas. “No frio fazemos campanhas de agasalho, mas e no calor?”, questiona. Ela reforça que mesmo tendo um ventilador, às vezes não podem pagar a conta de energia e, por isso, é preciso enxergar essa população e promover ações para ajudá-las no calor. O calor calor afeta nossos sistemas circulatório e cardiovascular — Foto: Fábio Lima/O Popular O que o calor causa no corpo? Diante de temperaturas de até 42,1ºC, a professora afirma que o nosso corpo não está acostumado e explica o que o calor causa no corpo. “É um estresse muito grande para o corpo, pois o calor afeta nossos sistemas circulatório e cardiovascular, que ficam em alerta”, detalha. Além disso, diz que o incômodo faz com que nosso corpo fique mais inquieto e impaciente. “Nesse calor vem o desânimo e ficamos mais agitados. Isso é percebido, principalmente, nas escolas: cai o rendimento dos alunos, que ficam mais impacientes”, detalha. Entenda a crise do clima em gráficos e mapas De quem é a culpa? As altas temperaturas popularizaram um fenômeno climático: o El Niño. O g1 pediu para a geógrafa explicar o que ele é. “O El Niño é o aquecimento das águas dos oceanos e, em Goiás, ele traz uma tendência de seca”, disse. Ramalho diz que ele é um dos responsáveis pelo calor, porém, afirma que a sociedade deve entender a própria participação para esses eventos climáticos extremos. “Culpar o aquecimento global é tirar a nossa responsabilidade. Nas cidades, estamos construindo mais, retirando as áreas verdes e precisamos repensar isso”, afirma. Urbanização também é responsável pelo aumento das temperaturas — Foto: Fábio Lima/O Popular 2024 Questionada sobre as expectativas para o próximo ano, a professora diz que o clima é bastante variável, mas destaca que o as previsões indicam que o El Niño deve continuar e, com isso, teremos mais calor. “Nós podemos esperar muito calor para 2024 e, com a ampliação da urbanização, das construções e desmatamento, a tendência são de altas temperaturas e escassez de chuva”, finaliza. 📱 Veja outras notícias da região no g1 Goiás. VÍDEOS: últimas notícias de Goiás