Mas para quem acha que este foi o primeiro contato do bombeiro – e também professor – com a escola, está enganado. De acordo com Marcelo, foi nesta mesma escola agrícola que ele estudou quando tinha apenas 11 anos de idade. E também foi salvo, de certa forma. “Eu estudei no 5º ano e fiz o ensino fundamental todo aqui até o 9° ano. E aí depois eu fiz prova para o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), que também tem uma relação com a questão agrícola. No ensino médio, eu descobri minha vocação, minha vontade de fazer aula de música”, disse. Formado em Música pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pós-graduado em Musicoterapia, o retorno para a escola como professor só aconteceu em 2021. Nesta época, o bombeiro ainda morava em Vitória, mas foi transferido para a unidade de Venda Nova do Imigrante e decidiu retornar para casa. “Eu voltei para a minha cidade e voltei a me conectar com a escola. Eu quis proporcionar mais oportunidades para as crianças. A questão da música e dos instrumentos era precária. Eu, por exemplo, não tive contato com a música na escola. Se não fosse meu pai, eu não teria ganhado a minha primeira guitarra aos sete anos de idade”, disse. Escola Municipal Agrícola de Afonso Cláudio, ES — Foto: Reprodução/ TV Gazeta Até então, a Escola Municipal Agrícola funciona em meio período normal, com as disciplinas tradicionais, e, no contra turno escolar, há carga horária para disciplinas de técnicas agrícolas, como práticas externas sobre como cultivar uma horta, e práticas internas, como tear, artesanato e culinária. Com o retorno de Marcelo para a cidade e o contato com a escola, ele fundou o projeto de Educação Musical da Escola Agrícola de Afonso Cláudio. “Ano passado, a gente criou o Instituto Cultural das Montanhas, que, desde junho, a gente é uma associação sem fins lucrativos que busca melhorar o ensino musical não só aqui na escola, mas em todo o município”, disse. O regente brincou ao dizer que trabalha nos dias de folga, mas também destacou que as duas profissões que exerce têm similaridades. “Os alunos também se interessam muito sobre o que faço no Corpo de Bombeiros. Eu explico que tem muita coisa parecida com a música, como a responsabilidade e a sensibilidade”, destacou. O regente disse ainda que tem um objetivo maior em relação ao projeto que toca com tanto carinho e dedicação. “Meu sonho é que todos se realizem musicalmente. Mesmo que eles levam como um hobby, mas que seja um hobby bem feito. Que eles saibam tocar um instrumento, apreciar uma música”, destacou. Impacto social Aulas de violão na Escola Agrícola de Afonso Cláudio, ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta Ao todo, o instituto conta com 117 alunos, sendo 102 da Escola Municipal Agrícola. Além das aulas teóricas, os interessados têm a chance de participar de diversas oficinas, como práticas de violão, teclado, percussão, bateria, instrumentos de sopro, canto e coral. Entre os benefícios oferecidos pelo projeto estão a concessão de bolsa-auxílio a 12 alunos que tiverem frequência igual ou superior a 70% das aulas, distribuição de cestas básicas e acompanhamento multidisciplinar aos estudantes inscritos no CadÚnico. De acordo com a pedagoga da Escola Municipal Agrícola, Sônia Coelho, o desempenho dos estudantes melhorou desde que o projeto foi iniciado na instituição. “Os alunos ficaram mais comprometidos e vão amadurecendo. Não é só aprender um instrumento. Eles aprendem sobre cultura, arte, história. Se não fosse o projeto, a maioria dos alunos não teria contato nenhum com os instrumentos neste momento da vida, especialmente os mais clássicos”, disse a pedagoga. Taíque de Jesus Rodrigues, de 15 anos, estuda na Escola Agrícola de Afonso Cláudio, no ES , e tinha muita vontade de aprender a tocar violão. — Foto: Reprodução/TV Gazeta Uma das alunas que está empolgada com o projeto é Taíque de Jesus Rodrigues, de 15 anos. “Eu era muito louca para começar a tocar e me interessei quando soube que aqui na escola tinha”, disse a estudante, que faz aulas de violão. As crianças pequenas também são incentivadas. A exemplo do Davi Otávio da Silva, de 8 anos, que está aprendendo a tocar flauta. Estudantes fazem aula de flauta na escola agrícola de Afonso Cláudio, ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta “Quando já deu a oportunidade, eu já entrei. É muito legal [participar]. Ensina muito!”, disse o menino. Além das atividades internas, os estudantes já se apresentaram em Afonso Cláudio e outros municípios, e também já receberam maestros da Grande Vitória para masterclasses. De acordo com o professor, o projeto conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Espírito Santo (LICC), do governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult); e do edital Circula Cultura, da Prefeitura de Afonso Cláudio, além de empresas que são apoiadoras. Toda a verba é para a aquisição dos instrumentos e equipamentos, viagens do grupo, uniformes de apresentação e auxílios. Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo