Ele pertence à frota da Guardiões Resgate, que presta serviços para a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora desde março de 2021. Segundo a PRF, o licenciamento da viatura estava vencido desde 2021 e, por este motivo, andava de maneira irregular. “Nenhum veículo que não esteja devidamente licenciado pode estar circulando livremente. Em princípio o veículo precisa ter todas as taxas, multas, restrições, qualquer coisa que gere impedimento para o licenciamento, ela precisa fazer o desembaraço dessas situações”, explicou o policial rodoviário federal Junie Penna. Conforme a PRF, não há ressalvas para ambulância ou outros tipos de veículos do serviço de saúde. “Todos os veículos que circulam em território nacional precisam estar devidamente registrados e devidamente licenciados”. O g1 fez contato com a Polícia Civil, que informou que a equipe responsável está realizando os levantamentos iniciais para abertura do inquérito. Já a direção da Guardiões Resgate disse que vai se pronunciar somente após as conclusões das investigações oficiais. Multa por direção sem cursos obrigatórios De acordo com apuração do g1, a ambulância acidentada já levou multas por mau estado de conservação, excesso de velocidade e até mesmo direção sem cursos específicos obrigatórios. Em 2023, o veículo, emplacado em Juiz de Fora, teve, ao menos, cinco notificações. Quatro multas aplicadas em 26/02/2023 pela Polícia Rodoviária Federal: sem licenciamento;mau estado de conservação;equipamento de iluminação alterado;dirigir sem cursos específicos obrigatórios. Uma multa aplicada em 23/10/2023: O g1 questionou a PRF e à Polícia Civil se Leonardo Luiz Neves da Silva, que conduzia o veículo no dia da tragédia, apresentava o curso, mas não recebeu retorno. A exigência pelo Curso Especializado no Transporte de Emergência é da Resolução 168/04 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Pneu careca da ambulância que se envolveu em acidente fatal e transportava pacientes de Belo Horizonte para Juiz de Fora — Foto: Reprodução Veículo em condições de sucateamento Áudio atribuído a motorista de ambulância que bateu e matou 5 em MG revela medo de médica “Mano, eu vou te falar. Essa van tá muito ruim, velho. Ela tá com a direção bambinha, tá ligado? Eu tô vindo de boassa, velho. Ela perdeu o para-choque, filho. Na estrada aí, filho”. Ele diz que a médica Daniela Moraes Miranda Reis, de 30 anos, também estava incomodada com a condição do veículo. “Nossa, começou a fazer um barulhão doido. Aí a médica pegou e falou assim, a Daniela: ‘Ô, Léo, tá fazendo muito barulho aqui atrás. Eu acho que perdeu o para-choque”’. Relato semelhante também foi feito por um ex-funcionário da Guardiões Resgate à TV Integração. Conforme o denunciante, alguns pneus eram retirados de uma ambulância e colocados em outras para as viagens poderem ser feitas.“Fazia uma troca das que estavam sucateadas e colocava nela”, explicou. “A ambulância não tinha uma manutenção, o veículo não parava para fazer manutenção. Se tivesse duas, três viagens seguidas, ela [ambulância] fazia”, afirmou o profissional. “Talvez nos últimos três meses, ela não tenha passado por nenhuma manutenção, fazia o que a gente fala que é gambiarra. Tirava a peça de uma para colocar na outra. A porta lateral dela não estava abrindo, só a porta traseira, e ela estava com barulho muito forte na parte dianteira direita, na roda dianteira direita. Se você passasse de 60 a 70 km/h parecia que o carro ia desintegrar”. O acidente O acidente aconteceu no km 736 da BR-040, em uma curva próximo à lanchonete conhecida como Perobas, em Santos Dumont. A ambulância fazia o transporte de Maiara de Freitas Cunha, de 27 anos, grávida de 32 semanas, que voltava de uma consulta em Belo Horizonte. Socorristas mortos no acidente com a ambulância de Juiz de Fora na BR-040 — Foto: Reprodução/Redes Sociais Segundo a PRF, o motorista da ambulância seguia no sentido Rio de Janeiro, quando teria perdido o controle da direção e entrado na pista contrária. O veículo bateu na carreta, com placa de Conselheiro Lafaiete, que estava descarregada. Chovia no momento do acidente, segundo a PRF. O marido de Maiara e pai da criança, Marcelo Conceição do Santos, de 39 anos, estava no veículo e também morreu. Os dois chegaram a ser socorridos e levados para o Hospital de Santos Dumont, mas não resistiram aos ferimentos. A equipe médica da unidade ainda tentou socorrer o feto, sem sucesso. Além do motorista Leonardo Luiz Neves da Silva, as outras das socorristas que estavam na viatura durante a viagem morreram na hora: Alessandra Chagas Motta, enfermeira de 38 anos, e a médica Daniela Moraes Miranda Reis, de 30 anos. Acidente ambulância e carreta BR-040, Santo Dumont — Foto: Rede Social/Reprodução VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes