Mudou o cenário, o endereço, mas a tensão, o nervosismo, a ansiedade, nada disso se altera. É o Carnaval em jogo. São nove quesitos ao todo e, de acordo com o sorteio, alegorias e adereços será o primeiro quesito a ser anunciado. Grande Rio, Vila Isabel e Viradouro partiram na frente. Se cada décimo pode ser decisivo, imagina a responsabilidade do casal que tem por missão trazer 30 pontos para escola. Sidclei e Marcela, do Salgueiro, garantiram os 30 pontos e gabaritaram as quatro notas 10. “Todo o esforço que a gente tem ao longo do ano todo ser recompensado nesse momento é uma satisfação muito grande”, diz a porta-bandeira do Salgueiro Marcella Alves. Cada subida, cada virada era festejada de perto por uma pequena torcida que este ano pôde assistir à apuração bem de perto. Reta final da apuração. Faltavam apenas dois quesitos: samba enredo e fantasia. E pela quantidade de pessoas em volta da mesa, a Viradouro seguia na liderança. E a expectativa para que permanecesse assim era grande. Foi no último quesito, penúltimo jurado. A Viradouro, escola de Niterói, campeã em 1997, campeã em 2020 e agora campeã novamente em 2024. A Viradouro celebrou na Cidade do Samba o seu tricampeonato. “A Viradouro foi a última a desfilar e não é fácil ser a última. A gente levantou aquela avenida, eu estou realizado”, celebra Mestre Ciça, mestre de bateria da Viradouro. “É muito feliz a gente conseguir ganhar dentro desse nível de campeonato”, diz o carnavalesco da Viradouro Tarcísio Zanon. Viradouro é a campeã do carnaval do Rio de Janeiro — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução Cinco escolas apresentaram recursos à Liga das Escolas de Samba, alegando que a Viradouro ultrapassou o limite de 15 componentes na comissão de frente. O caso será julgado nesta quinta-feira (15), mas mesmo que a escola seja punida, perdendo meio ponto, continuará campeã. A apuração terminou com outra novidade: um pequeno desfile na Cidade do Samba. No sábado das campeãs tem mais. Enredo A Viradouro mostrou a história do Vodum Serpente. Um enredo sobre magia, divindades da África e a força das mulheres. A Viradouro foi a última escola a entrar na avenida no último dia de desfiles, e arrebatou o público e os jurados da concentração até a Apoteose. O enredo fala de um culto ancestral protegido por mulheres guerreiras da África e no Brasil. O carnavalesco Tarcísio Zanon mostrou o Vodum Serpente como uma força espiritual do bem. Na comissão de frente, a primeira surpresa: uma cobra deslizou com rapidez entre os bailarinos e eles estavam com maquiagem fluorescente. Técnica que foi usada em quase toda a escola. Até com material de trânsito – os olhos de gato – que refletiam a nova iluminação do sambódromo. As alegorias brilhavam no escuro. A bateria nota 10 de Mestre Ciça representou a revolta dos malês e incluiu o toque dos atabaques. As baianas eram sacerdotisas da serpente divina. O quarto carro da escola de Niterói representou a proteção mística e a lealdade e foi todo feito com ferro velho do barracão. Os integrantes cantaram o samba sem parar e deram um show em harmonia. O sol já tinha nascido com a Viradouro se aproximou da dispersão. Com a alegria e a emoção de quem cumpriu seu dever com perfeição. Com a benção das guerreiras sagradas africanas que atravessaram a avenida e do público que foi arrastado até o fim. O último minuto do carnaval na Sapucaí parecia mesmo o anúncio de um novo tempo para a Viradouro. Festa A alegria atravessou a Ponte Rio-Niterói e atracou na quadra da Viradouro, em Niterói. Uma festa linda com uma quadra abarrotada de gente. Uma manifestação de amor de pessoas que ajudaram a escola a chegar até o título. A escola teve uma avalanche de notas 10 – inclusive na comissão de frente. A quadra da Viradouro, em Niterói, está lotada neste noite de comemoração do tricampeonato.