Juiz de Fora tem mais de 430 acidentes com animais peçonhentos em 2023; aranhas lideram lista

Juiz de Fora tem mais de 430 acidentes com animais peçonhentos em 2023; aranhas lideram lista

O dado é do Portal da Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e indica que o ano terminou com o maior número de ocorrências desde 2010, quando a plataforma passou a disponibilizar os dados. Pelo balanço, aranha (219 atendimentos), escorpião (99) e serpente (29) são os animais com maior número de ataques. Confira no gráfico: Acidente com animais peçonhentos em Juiz de Fora em 2023 Fonte: SINAN/CPDE/DIES/SVE/SubVS/SESMG Quanto ao local da picada, pés e mãos lideram a lista, com 92 e 91 registros, respectivamente. Local da picada nas ocorrências envolvendo animais peçonhentos em Juiz de Fora Mudanças climáticas podem justificar aumento Conforme o professor Ralph Maturano Pinheiro, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, o aumento dos ataques pode estar relacionado às mudanças climáticas e à destruição dos habitats. “O clima está atípico. Tivemos um inverno relativamente quente seguido de ondas de calor que antecederam o verão. Os artrópodes (insetos, aranhas, escorpiões, lacraias, entre outros) são sensíveis às variações de temperatura. No geral, se reproduzem e tem um aumento populacional nas épocas quentes e úmidas”. Ainda conforme o especialista, a destruição dos habitats onde esses animais vivem é um fator crítico. “A redução do tamanho e da complexidade desses ambientes aumenta a chance desses animais se dispersarem em busca de algum recurso, que pode ser alimento ou refúgio durante o dia. Nesse deslocamento, podem entrar em quintais, terrenos baldios ou dentro das casas”. Locais onde podem aparecer os animais Conforme o professor Ralph Maturano Pinheiro, a série histórica dos últimos 20 anos mostra que os casos mais comuns de acidentes com aranhas em Juiz de Fora estão relacionados à aranha-armadeira (Phoneutria sp.) seguida da aranha-marrom (Loxosceles sp.), espécies com comportamentos diferentes, o que influencia na forma como os acidentes ocorrem. “A aranha-armadeira não constrói teias e vaga durante a noite em busca de presas. Durante o dia, ela busca abrigo, de preferência um local escuro, que pode ser entulho, restos de obra, lenha acumulada, troncos caídos, vegetação rasteira ou até mesmo sapatos e interiores de armários. Então, muitos dos acidentes ocorrem durante o dia quando a vítima não percebe a presença da aranha e, de alguma forma, a estressa”, explica. O especialista alerta, ainda, que a amadeira é uma aranha agressiva, capaz de pular em direção à vítima para picar e que sua picada é bastante dolorosa. A aranha-armadeira não constrói teias e pode andar pela vegetação rasteira — Foto: Arquivo / Terra da Gente Já a aranha-marrom constrói uma teia emaranhada e abrigada da luz. Diferente da aranha-armadeira, a aranha-marrom não é agressiva e o acidente geralmente se dá quando ela é esmagada pela vítima. “Durante o esmagamento, suas quelíceras (estruturas que inoculam a peçonha) penetram na pele da vítima, que muitas vezes não se dá conta da picada no momento, e as lesões e sintomas característicos desse tipo de acidente começam a aparecer algum tempo depois”, completa. Outros animais, como escorpiões, são comuns em ambientes estritamente urbanos, e podem ser comuns em galerias de esgoto, onde encontram alimento (baratas, principalmente) em abundância. “Durante períodos de chuvas intensas, essas galerias enchem de água e esses animais são desalojados, aumentando a chance de encontro com as pessoas e, consequentemente, de acidentes”. No caso de serpentes, a movimentação delas acontece com mais frequência nos meses quentes e úmidos, de acordo com o professor Henrique Caldeira Costa, chefe do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF. “Isso pode ter relação com a biologia das serpentes, porque elas são animais ectotérmicos, ou seja, precisam de uma fonte de calor externa para aquecer seu corpo (diferente de nós, que geramos o próprio calor corporal), e também porque suas presas, como anfíbios, lagartos e roedores, parecem também estar mais ativos nesses períodos do ano”. Cascavel é uma das serpentes mais comuns em Juiz de Fora — Foto: Thaís Guedes Segundo o especialista, são mais de 50 espécies mapeadas na região. Em um perfil nas redes sociais, o Repteis JF, pesquisadores divulgam curiosidades, além de mitos e verdades da fauna local. Animais não devem ser mortos Embora o número de acidentes tenha aumentado em 2023, o professor Henrique Caldeira reforça que a Lei 9605/1998 proíbe a morte de animais silvestres. “É óbvio que a presença de uma serpente no quintal de casa pode assustar e às vezes até oferecer riscos, se for uma espécie peçonhenta, mas, neste caso, o recomendado é jamais matar o animal”. Ainda segundo ele, matar um animal pode comprometer a conexão da fauna e causar desequilíbrios ambientais. “Precisamos entender que as espécies de seres vivos interagem entre si formando uma verdadeira rede ou teia de conexões, onde cada uma tem algumas funções, como produtores, polinizadores, predadores, carniceiros, entre outros. Se perdemos uma espécie, um ou muitos fios dessa rede se rompem, dependendo da quantidade de interações que esta espécie faz. E essas perdas costumam gerar desequilíbrios em escala local, regional ou até global, dependendo do caso”. Ele relembra que a população deve fazer contato com órgãos oficiais para resgate e transporte de animais. São eles: Corpo de Bombeiros: 193Guarda Municipal: 153 Polícia Militar de Meio Ambiente: 3228-9050 LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO: VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campo das Vertentes

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