Uma nova imagem feita pelo projeto de colaboração do Telescópio Event Horizon (EHT, em inglês) revelou campos magnéticos fortes e organizados em espiral na borda do buraco negro Sagittarius A (Sgr A), localizado no centro da Via Láctea. A imagem tem semelhanças com o campo magnético de outro buraco negro muito maior do que o Sgr A, chamado M87, que fica na galáxia Messier 87. Isso sugere que campos magnéticos fortes são comuns para todos os buracos negros. “Com amostra de dois buracos negros – com galáxias e massas bem diferentes -, é importante determinar no que eles concordam e discordam. Como os dois estão apontando em direção a um campo magnético forte, isso sugere que talvez essa seja uma características universal ou mesmo fundamental desse tipo de sistema”, explica a cientista do Projeto EHT, Mariafelicia De Laurentis. Localizado a 27 mil anos-luz do planeta Terra, o Sgr A teve sua primeira imagem revelada em 2022, em coletivas de imprensa ao redor do mundo. A partir disso, os cientistas notaram que o Sgr A lembrava bastante o M87, que foi o primeiro buraco do negro a ser registrado e é dez vez maior que o outro. Pesquisas sobre o M87 indicaram que os campos magnéticos da região permitiam que o buraco negro expelisse poderosos jatos de material no ambiente ao redor. As imagens divulgadas no The Astrophysical Journal Letters mostram que o mesmo também pode ser verdade para o Sgr A. Breaking news: the Event Horizon Telescope team unveils strong magnetic fields spiraling at the edge of Milky Way’s central black hole, Sagittarius A*. This new image suggests that strong magnetic fields may be common to all black holes.#OurBlackHole #SgrABlackHole pic.twitter.com/BV8eON4Jhc— Event Horizon ‘Scope (@ehtelescope) March 27, 2024 Mariafelicia De Laurentis destaca que, enquanto no M87 o lançamento de materiais foi de fácil captura, no caso do Sgr A os pesquisadores ainda não conseguiram registrar essa atividade. Para enxergar o campo magnético, os pesquisadores utilizaram luz polarizada. Luz é uma onda eletromagnética que oscila e se movimenta. Quando tem uma orientação para determinado lado, está polarizada. Mas seres humanos não conseguem distinguir esse efeito da luz normal a olhos nus. No caso do buraco negro, partículas nas linhas do campo magnético têm um padrão de polarização perpendicular ao do campo. Por meio de equipamentos que capturam a luz polarizada, os pesquisadores conseguem ter mais detalhes sobre as propriedades do gás e dos mecanismos que acontecem nos buracos negros. Entretanto, observar esses sistemas por meio dessas ondas não é fácil mesmo com equipamentos. No caso do Sgr A, houve um desafio adicional pela velocidade com que se mexe, de forma que até o registro a partir de luz polarizada se tornou difícil. O EHT vai voltar a observar o Sgr A em abril deste ano. A expectativa é de que planos de expansão para a próxima década possibilitem visualizar o jato escondido do sistema. O projeto de colaboração internacional conta com participação de 300 pesquisadores da África, Ásia, Europa, América do Sul e do Norte. Os resultados foram publicados em dois artigos na The Astrophysical Journal Letters. Telescópio Espacial James Webb e suas fotos incríveis tiradas nos últimos meses Copyright © Estadão. Todos os direitos reservados.