A aparência fofa e as estruturas semelhantes a folhas espalhadas pelo corpo são apenas algumas características surpreendentes das leaf sheeps (ovelhas-folha), lesmas do mar que habitam as águas do Japão, Filipinas, Indonésia, Papua Nova-Guiné e outros países insulares da Oceania . Nas imagens acima, é possível ver uma delas se alimentando de pequeninas algas no chão, como se estivesse pastando. Além da energia proveniente do consumo delas, a espécie é capaz de ingerir tecido de algas e evitar a digestão dos cloroplastos, organelas responsáveis pela fotossíntese. Costasiella fazendo a postura de ovos em algas Avrainvillea erectus, na Indonésia — Foto: prilfish / Wikimedia Commons Desse modo, elas mantêm os cloroplastos funcionais em suas cerata, se aproveitando dos açúcares produzidos por eles como uma fonte de energia complementar. “Aliás, a coloração verde das cerata é devido aos cloroplastos que estão armazenados. A coloração verde também dá ao animal a aparência de uma ‘folha’, uma vantagem para se camuflar nas algas que vivem e se alimentam”, explica o mestrando Biologia Animal pela Unicamp, Alan Rodrigo Batistão. Segundo Alan, essas estruturas semelhantes a folhas são chamadas de cerata – no singular, ceras. São protuberâncias dorsais e laterais que atuam, primariamente, na respiração das lesmas do mar. Em algumas espécies, elas passaram a desempenhar funções secundárias, como ataque ou defesa. Leaf sheep (Costasiella kuroshimae) registrada nas Filipinas — Foto: Diego Delso “No caso da Costasiella kuroshimae, elas armazenam os cloroplastos sequestrados em ramificações das glândulas digestivas localizadas nessas estruturas. Os cloroplastos permanecem funcionais, fabricando açúcares para o pequeno molusco”, relata. O mestrando explica que a lesma ovelha-folha passa toda sua vida em algas do gênero Avrainvillea. Além de alimento, as mesmas servem como casa e berçário, já que a desova também é realizada nelas. No grupo Sacoglossa, o qual a leaf sheep faz parte, outras espécies também são capazes de cleptoplastia, isto é, a capacidade de se alimentar de tecido vegetal e não digerir os cloroplastos para uso posterior. Um exemplo é a lebre do mar Elysia chlorotica. Costasiella Kuroshimae — Foto: alif_abdulrahman / Wikimedia Commons Estado de conservação De acordo Alan Rodrigo, a espécie não corre perigo de extinção, no entanto ela ocorre em mares muito diversos, que são susceptíveis a terem sua estabilidade ecológica abalada pelas mudanças climáticas. “O aquecimento e a acidificação dos oceanos podem ser críticos para a espécie e para outros organismos que dividem o ambiente com Costasiella kuroshimae”, finaliza. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente