Só que, para muito além da saúde, produtos de uso diário também podem sofrer os impactos de uma exposição excessiva ao sol e, em alguns casos, apresentar certos riscos. De acordo com o químico Emerson Rodrigues Camargo, professor do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), quando se fala em alimentos, por exemplo, a atenção precisa ser redobrada. A maionese do churrasco do fim de semana já é um dos mais preocupantes quando os termômetros batem 35ºC — às vezes, até antes disso. “É perigosíssima [se exposta ao sol]. Tem de jogar fora no final do dia, porque ela tem tendência de proliferar bactéria. Alimentos feitos com ovo sempre são complicados e, quando está quente, a ação de degradar é muito rápida. Em um tempo quente assim, é bom evitar”. O arroz é outro item que merece atenção, assim como o leite e o suco de laranja, que podem azedar. “Se você deixar o arroz em cima da pia, ele tende a fermentar. Leite fora da geladeira, suco de laranja. A pessoa tem mania de tomar na garrafa e deixa fora, o que vai acontecer? Fermentar rápido. Nesses momentos de alta temperatura, o melhor é, por uma questão de saúde, comer comidas mais leves, muita água e evitar comprar muita coisa, compra de menos. Justamente para não estragar”, diz Camargo. Pão mais duro Outro alimento que muda com as temperaturas mais altas é o pão francês. Como ele é feito de farinha e a farinha tem amido, acaba perdendo a umidade quando o tempo está muito seco e endurece mais rapidamente. E é justamente isso que está acontecendo neste momento em boa parte da região de Ribeirão Preto. Os termômetros estão nas alturas, mas a umidade do ar está lá embaixo. “Como o pão perde água, o amido cristaliza e ele fica duro. Quando está mais quente, essa formação do cristal de amido é mais rápida”. Pão francês pães deliciosos melhores pães — Foto: Divulgação A dica para manter, pelo menos, o pão fresquinho, é embrulhá-lo em um saco plástico e fechá-lo, para que ele não perca água. “É para não perder água. Se estiver dentro do saco fechadinho, não vai endurecer”, explica Camargo. Canetas podem estourar Um objeto que sofre bastante com a temperatura mais alta é a caneta. Segundo o especialista, a chance de vazar a tinta em dias mais quentes é maior. “A tinta pode reduzir a viscosidade e fluir com mais facilidade. Além disso, a temperatura pode afetar a estabilidade da ponta da caneta, facilitando o vazamento. Isso é um problema, principalmente, se as canetas forem deixadas espalhadas pela casa. Na hora que se vai usar, pode borrar o papel. Aliás, canetas em carros deixados no sol são um problema”. Caneta pode estourar em temperaturas muito elevadas — Foto: Reprodução Livros também podem sofrer mais com o calor. Isso porque, ainda segundo o professor, o papel tem um problema de umidade. “Os livros ficam muito ressecados, então, acabam ficando até quebradiço e rasgam mais fácil”. Produtos de limpeza podem intoxicar Da lista de coisas que são potencialmente perigosas com as altas temperaturas, os produtos de limpeza figuram entre as principais. Quando está mais quente, eles também podem esquentar e aí acabam liberando substâncias que podem ser nocivas à saúde. A água sanitária libera o cloro. Tudo que esquenta, reage muito mais rápido e é muito perigoso, por exemplo, você abrir a água sanitária e sair gás dela”, diz Camargo. O alerta vale, principalmente, para lugares fechados, como banheiros sem ventilação, ainda segundo o professor. O risco aqui está na intoxicação. “A pessoa vai limpar o banheiro e está acostumada a jogar o produto [no chão ou na parede]. Mas ela está acostumada a limpar a casa em temperatura normal, de 20ºC. Agora está muito quente, pode ser que, com os vapores dos produtos de limpeza, se o banheiro estiver fechado, por exemplo, a pessoa fique intoxicada”. Água sanitária é um dos produtos mais perigosos em altas temperaturas — Foto: Walterson Rosa/CFQ Por outro lado, detergente funciona melhor quando o tempo está quente. “Porque ele forma as micelas [microesfera que pode capturar sujeira lipídica]. Quanto mais alta temperatura, maior é a tendência de formar micela, que é o que limpa. Desengordura melhor as coisas”. Na mesma linha, sabão e sabonete também funcionam melhor em dias de mais calor. “Ficam mais eficientes quando está quente. Por isso que a gente usa água quente na máquina de lavar. Se a água estiver fria, o efeito é anulado”. Detergentes funcionam melhor em temperaturas mais altas — Foto: Reprodução/EPTV Instrumentos musicais racham O tempo quente também pode ser prejudicial a instrumentos musicais, especialmente aqueles feitos de madeira. Isso porque ela pode rachar quando está muito calor. “O instrumento musical vai ressecando, ressecando, ressecando e, como tem a tensão das cordas, fica todo tensionado. A madeira absorve a água em dias frios e perde água em dias secos. Como perdeu muita água porque está quente e seco, pode rachar, descolar”. Móveis de madeira também são afetados, segundo o professor. “À noite, a casa estala toda porque vai se ajustando. A madeira interage muito com a temperatura e a umidade”. Violão — Foto: Carlos Poly Limpador de para-brisa gruda no vidro A borracha, ainda segundo Camargo, é muito sensível à temperatura e umidade. Por isso mesmo, em dias quentes é possível perceber que o limpador de para-brisa tende a grudar o vidro do carro. “Nesses períodos muito secos, a mola fica sempre apertando ele no vidro e aí, quando esquenta muito, aquele ponto começa a querer amolecer”. Um dica importante, revela o professor, é descolar o para-brisa do vidro antes de sair com o veículo. “É de manhã cedo dar aquela descoladinha no para-brisa. Sei que não vai chover, mas vou lá e descolo o limpador de para-brisa de manhã, antes de sair. Como ele vai acumulando poeira e a borracha amolece com a temperatura, na hora que você ligar o para-brisa, vai arranhar todo o vidro. Parece uma lixa”. VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região