Pais e estudantes ouvidos pelo g1 contaram que as aulas vagas são constantes e não há apoio nem atendimento psicológico para estudantes e funcionários. Segundo o secretário estadual da Educação, Renato Feder, no entanto, foram realizados no último mês 15 atendimentos psicológicos na unidade. Os alunos também narraram episódios constantes de violência no fim do período de aulas. “Quanto tem aula vaga, a gente geralmente fica sem atividade. E aí as vezes começavam os bate-bocas e desentendimentos”, contou o aluno G. N, de 15 anos, estudante do 9º ano do ensino fundamental. Alunos da Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, conversam com o g1 sobre os problemas de infraestrutura da escola — Foto: Rodrigo Rodrigues/g1 “As brigas que começavam dentro da escola terminavam na saída, na frente da escola ou em ruas do lado. Lá dentro, quando tem briga, só tem inspetor para separar”, contou a aluna R. S. T, de 15 anos, também do 9º ano. “É um inspetor para vários andares da escola. E as brigas na porta da escola eram pelo menos uma vez por mês”, completou o aluno C.O., de 16 anos. “Já vim conversar recentemente sobre os problemas de muitas aulas vagas e de não ter estrutura para crianças que faltam por causa de tratamento médico. Sexta-feira mesmo meu filho só teve duas aulas, o resto tudo vaga. Eles falam que estão com falta de professores e não têm o que fazer. Mas pra gente que é mãe isso não vale. E o ensino deles? E o que perderam na pandemia?”, disse a dona de casa Ana Paula Oliveira, mãe de um aluno do 7º ano do ensino fundamental. “O diretor me disse que não tem muito o que fazer, porque os professores tão contratados, mas a maioria está afastada. Eles tentam suprir as crianças de alguma forma, só que é muita aula vaga. As crianças ficam muito dispersas. Aí eles reclamam de celular, que as crianças estão isso, estão aquilo, mas não tem uma estrutura mínima. Aí acontece o que aconteceu hoje”, completou. Presença de psicólogos Entrada da Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo — Foto: William Santos/TV Globo Apesar da afirmação de Renato Feder sobre a escola ter recebido a visita de ao menos um psicólogo no último mês, pais e estudantes foram unânimes em afirmar que nunca ouviram falar da presença desse tipo de profissional na escola, que tem 1.800 alunos. “Nunca soubemos de psicólogo aqui. Houve uma pedagoga depois do massacre [na Escola Thomazia Montoro, em março], mas psicólogo nunca veio. Agora que a tragédia aconteceu, só ajuda psicológica não vai deixar os pais sossegados. Tem que reforçar a segurança dentro e fora para os alunos voltarem em paz”, disse Fernanda dos Santos, que tem uma filha no 7º ano. A dona de casa Ana Paula Oliveira, também mãe de aluna, diz que é ex-estudante da escola e está decepcionada com o que ela chama de “decadência”. “Não tem segurança, nunca teve psicólogo. É muito raro a gente ver uma viatura na saída da escola. Eu estudei aí e participei da vida da escola. Ver uma tragédia dessas hoje é desolador. Péssimo, constrangedor e decepcionante”, disse. Frase de Paulo Freire escrita no muro da Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de SP, palco de um assassinato a uma estudante de 17 anos. — Foto: Rodrigo Rodrigues/g1 Omissão da diretoria Janaína dos Santos é mãe de uma adolescente que estuda no 1º ano do ensino médio e reclamou de uma suposta “omissão da diretoria” da Escola Sapopemba em relação ao tiroteio ocorrido nesta segunda (23). “Terça feira passada teve a reunião de pais e falaram que ela [menina alvo do atirador] estava sendo ameaçada por ele. A diretora falou que não, que era só um boato, que não era nada. Mas olha o que aconteceu… Os pais vinham falar, mas a diretoria não deu corda, porque era sempre boato, sempre que os alunos não queriam estudar. Omissão enorme da diretoria.” Segundo a mãe, a menina está muito abalada por ter ouvido e presenciado o tiroteio dentro do colégio e não deve retornar à escola neste ano letivo. “A escola é muito boa, mas tem bastante aula vaga. E é onde aconteciam essas picuinhas entre os alunos. Dava espaço para esse tipo de coisa, que é muito ruim para eles, que são adolescentes. Não vou mandar minha filha para a escola neste ano porque faltam dois meses. Que segurança que a escola tem para passar, depois de tudo isso?”, questionou. “Meu bem maior são os meus filhos. A gente acha que estão seguros dentro da escola e olha o que a escola oferece…” Aulas suspensas por 10 dias Secretário da educação, Renato Feder, e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas — Foto: Rodrigo Rodrigues/ g1 As aulas serão suspensas por dez dias, anunciou o governo de São Paulo durante coletiva nesta segunda-feira (23). O secretário da Educação, Renato Feder, voltou a prometer mais psicólogos nas escolas. Como o g1 revelou, a Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo, que foi alvo de um ataque em março em que uma professora foi morta e outras quatro pessoas ficaram feridas, ficou sem psicólogos disponíveis para o atendimento de professores e alunos cinco meses após a ocorrência, mesmo após promessa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo dados repassados anteriormente pelo governo, 550 psicólogos atendem as cerca de 5 mil escolas da rede estadual de educação de São Paulo. Tarcísio disse que vai fazer um aditivo nesse contrato. “Num primeiro momento, a gente vai aproveitar o contrato que nós já temos e aditivar, que é o caminho mais rápido, então a gente traz mais psicólogos para dentro para dar mais assistência à rede. Isso é rápido”, disse em coletiva. Para Tarcísio, há a necessidade de “rever, de voltar, de rever tudo o que a gente está fazendo para que evite novas ocorrências”. O governador contou que a escola passou por treinamento contra agressão ativa na comunidade, mas que, ainda assim, não foi suficiente. “O sentimento que fica, além do sentimento de tristeza, é de frustração. A gente se sente frustrado, incapaz e impotente de lidar com esse tipo de situação. Vamos ter uma reunião agora da Seduc com a SSP para ver que medidas a mais nós podemos tomar para evitar novos incidentes desta natureza”, afirmou Tarcísio. Segundo ele, desde março deste ano, 165 tentativas ou suspeitas de ataques a escolas foram frustradas. “Em algumas situações, a gente chegou a recorrer ao Judiciário para ter operação de busca e apreensão, apreendemos armamento, mas é aquilo, por mais que você evite uma série de ocorrências, quando uma você não consegue evitar, quando você falha, fica a dor”, disse o governador. Renato Feder, secretário estadual da Educação, afirmou que, em junho deste ano, houve um “episódio” com o aluno autor do ataque desta segunda (23) e que os pais foram chamados para conversar. No entanto, naquele momento, não havia profissionais de psicologia na unidade escolar: “O estresse que foi divulgado foi no mês de junho. Os psicólogos chegaram em agosto e não identificaram isso”. Poucos psicólogos O número de psicólogos disponíveis para atendimento presencial na rede estadual de educação em São Paulo deveria ser de 1.100 profissionais — e não de 550, como foi anunciado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc). A avaliação é da psicóloga Valéria Campinas Braunstein, que é conselheira do Conselho Regional de Psicologia de SP e doutora em educação e saúde na infância e adolescência pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No final de agosto deste ano, 368 psicólogos começaram a frequentar escolas estaduais. Os profissionais fizeram, inicialmente, uma imersão na rede escolar e, a partir de 4 de setembro, passaram a lidar diretamente com as comunidades escolares, informou a Seduc. Os outros 182 profissionais começaram a trabalhar ao longo de setembro. O governo disse que cada psicólogo deveria atender oito escolas, em média. O número pode variar de acordo com a demanda e a quantidade de alunos de cada unidade de ensino. Segundo Valéria, a carga horária de 30 horas semanais por psicólogo não será suficiente para atender a demanda da comunidade escolar. “Um psicólogo para esta rede deste tamanho, neste momento, acho que não dá. Depois que as coisas se equilibram, você pode diminuir um pouco”, afirmou Valéria ao g1. “Teriam que ser dois psicólogos de 6 horas para cada escola, minimamente. Com toda essa demanda, quem vai ter um problema de afastamento de saúde mental será o psicólogo. Ou ele entra para somar ou ele entra para dividir toda a tristeza que acontece dentro da escola”, apontou Valéria. Em nota, a Seduc informou que “368 psicólogos começaram a trabalhar para atender alunos e professores da rede estadual de ensino. Na E.E. Thomazia Montoro, nove professores e servidores foram atendidos nesse primeiro dia. Todos participaram de atividades em grupo sob a coordenação da profissional, que seguirá uma programação na unidade ao longo dos próximos dias a fim de ampliar os atendimentos”. Disse ainda que “em relação ao atendimento na E.E Thomazia Montoro, esclarecemos que, desde o ataque no fim de março, equipes do Programa Conviva realizam visitas semanais a unidade para acolher e atender alunos, professores e servidores”. Escola em SP alvo de ataque a faca está sem psicólogos 5 meses após atentado; governo prometeu apoio