O terminal portuário DP World teve um aumento de 142% no número de mulheres no quadro de funcionários em 10 anos de operação no Porto de Santos. Atualmente, são 219 pessoas do sexo feminino que realizam desde funções administrativas até operacionais que, tradicionalmente, eram ocupadas por homens. Elas se encarregam de funções como operadoras de portêiner, o maior equipamento portuário, que atinge 42 metros de altura, RTG (sigla para Rubber Tyred Gantry), um guindaste responsável por empilhar contêineres, ponte rolante, empilhadeiras de pequeno e grande porte e carretas, além de líderes de armazéns, vistoriadoras e conferentes de cargas, por exemplo. Pioneira Paula Bispo de Santana, de 46 anos, foi a primeira operadora de costado da empresa. Ao g1, ela contou que começou como assistente de operações e, por meio de um processo seletivo, foi selecionada. “Foi um sonho, é uma coisa totalmente diferente, eu nunca imaginei conseguir chegar nessa função”. Paula Bispo foi a primeira operadora de Costado da DP World — Foto: Divulgação/DP World Um dos trabalhos é totalmente manual, já que ela auxilia na atracação de navios no cais. “O navio vem com o prático, aí eles jogam as cordas e a gente puxa no braço para o costado”, explicou a operadora. Por ser pioneira, Paula sofreu preconceito por parte de trabalhadores avulsos, mas conseguiu ultrapassá-lo graças ao incentivo da empresa. “A empresa me deu muito apoio. A equipe que eu estava me ajudava muito”, enfatizou. Me sinto muito feliz, primeiro por ter quebrado um tabu, falavam que mulher não conseguia, mulher não podia. Segundo por ver que tem mais mulheres querendo fazer. […] Me sinto muito orgulhosa, ainda por ser a primeira e abrir espaço para outras”, finalizou. De mulher para mulher Catia Morethes criou uma empresa de transporte por aplicativo focado no público feminino junto com a sócia Regina Garcia. O objetivo é proporcionar mais segurança oferecendo o serviço de mulher para mulher, ou seja, apenas motoristas e passageiras são permitidas no ‘Mamy Go’. Catia Morethes (à direita) tem empresa de transporte por aplicativo focado no público feminino junto com a sócia Regina Garcia — Foto: Arquivo Pessoal A microempresária contou ao g1 que a empresa nasceu como “braço” de uma outra rede de motoristas criada por ela em 2019. O negócio também contava apenas com mulheres na direção, mas atendia crianças e idosos de ambos os sexos por meio de agendamentos via WhatsApp. A necessidade de separar os públicos surgiu da alta procura pelo serviço. “É oportunidade para as mulheres. Aquelas mulheres que já se sentem inseguras em aplicativo comum”, explicou Cathia. De acordo com ela, o novo aplicativo permite agendamento de corridas ou acionamento instantâneo. “Atenderemos Santos e São Vicente, por enquanto. Logo mais vamos expandir para cidades vizinhas, como Guarujá, Praia Grande, entre outras. A ideia é atingir todo o litoral”, disse. Desafios do mercado de trabalho Mestre em Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo, Cristiane Bibiano Silva estuda o mercado de trabalho para mulheres. Ela acredita que a ocupação em postos de trabalho trouxe autonomia econômica para a população feminina. “Essa autonomia possibilita que elas tenham outras formas de realização pessoal e profissional que que não esteja restrito ao espaço doméstico, de cuidado com filhos. Também são muitas as mulheres que têm uma relação de dependência econômica com seus companheiros, que as mantém em relações de violência”, explicou. Cristiane explicou que a saída para o mercado de trabalho possibilitou também que as mulheres se qualificassem, o que repercute também na educação dos filhos. “Muitos estudos relacionam os anos de estudo de pais, sobretudo de mães, na escolaridade de filhos”, disse Cristiane. “A participação das mulheres no mercado de trabalho tem um papel determinante no desenvolvimento socioeconômico do país, sendo benéfico para a sociedade como um todo”, enfatizou. Apesar disso, o público feminino ainda enfrenta dificuldade de acesso e permanência no mercado de trabalho. “A desigual divisão dos afazeres domésticos impede muitas delas ocupar postos no mercado de trabalho compatível com a jornada de cuidado de filhos e pais. Muitas buscam adaptar-se em cargos compatíveis com a jornada do cuidado doméstico, o que faz com que a remuneração seja menor”. A profissional enfatizou que muitas mulheres são chefes de família no Brasil e a desigualdade de rendimentos pode afetar a qualidade de vida de quem está em volta daquela mulher. Além disso, a cientista social afirmou que muitas mulheres ainda possuem remuneração menor do que a de homens, mesmo em cargos com as mesmas funções deles. “Por isso, a necessidade de políticas públicas transversais de igualdade de gênero, de garantia de igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, e do aumento do número de mulheres em posição de liderança, entre outras ações”, finalizou. VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos