Apesar de a Constituição da Guatemala estabelecer que o Congresso deve empossar o novo presidente até as 16h locais (19h de Brasília), ao final deste prazo, nem mesmo o novo Parlamento estava instalado. “Os deputados têm a responsabilidade de respeitar a vontade popular expressa nas urnas. Estão tentando violar a democracia com ilegalidades, trivialidades e abusos de poder”, escreveu Arévalo nas redes sociais. O Congresso, majoritariamente de direita, não consegue chegar a um acordo sobre a escolha da nova mesa diretora, declarando a bancada de Arévalo “independente”, em virtude de uma ordem judicial de suspensão do partido Movimento Semente. O atraso na posse gerou descontentamento entre apoiadores de Arévalo, incluindo muitos indígenas, que, em meio a empurrões com a polícia, abriram caminho em direção à sede do Parlamento. Até agora, a polícia não reprimiu a manifestação. Apoiadores do presidente eleito Bernardo Arévalo se reúnem na Praça da Constituição, na Cidade da Guatemala. — Foto: Reuters Imbróglio Sociólogo, ex-diplomata e filósofo de 65 anos, Arévalo passou inesperadamente para o segundo turno presidencial no ano passado para enfrentar uma candidata conservadora aliada ao governo. Ele venceu com 60% dos votos, em uma campanha com mensagens anticorrupção. Desde então, Arévalo enfrentou uma ofensiva judicial que ele denunciou como um “golpe de Estado”, envolvendo a elite política e econômica que tem governado o país por décadas. O Ministério Público tentou retirar sua imunidade como presidente eleito, desmantelar seu partido progressista e anular as eleições, alegando irregularidades eleitorais. A investida foi condenada pela ONU, OEA, União Europeia e Estados Unidos, que sancionaram centenas de promotores, juízes e deputados por “corrupção” e por “minar a democracia”. Como demonstração de apoio, a cerimônia de posse conta com a presença do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, de delegados de Washington e do rei da Espanha, Felipe VI, além dos presidentes da Colômbia, Chile, Honduras e Panamá, entre outros. Uma reunião de chanceleres que participam da posse foi convocada urgentemente pela Costa Rica. A Guatemala que Arévalo herda ocupa o 30º lugar entre 180 países no ranking de corrupção da Transparência Internacional e tem 60% de seus 17,8 milhões de habitantes vivendo na pobreza, um dos índices mais altos da América Latina. Dezenas e milhares de cidadãos emigram todos os anos para os Estados Unidos em busca de trabalho e fugindo da violência das gangues e do tráfico de drogas.