O Pimp My Carroça nasceu em 2012 com o intuito de tirar esses profissionais da invisibilidade, inicialmente customizando suas carroças. Hoje atua também em outras frentes, sempre com foco na melhoria da condição de trabalho dos catadores. O Carroça do Futuro, do qual Nanci fez parte, consiste na criação de protótipos elétricos para justamente apoiar na hora da catação. “Eu adorei. Fiz uma coleta agora e não cheguei tão cansada”, conta ela que, além do trabalho nas ruas, atua como assistente de incidência política no Pimp. “O triciclo é totalmente elétrico, então eu não preciso puxar o peso todo. O catador guia a carroça, não puxa. É muito bom.” Mas esta não é a realidade dos mais de 17 mil catadores de materiais recicláveis da cidade. Moacir da Silva, de 43 anos, conta que anda puxando a carroça sete horas por dia, há seis anos. “Vejo as pessoas com uma elétrica, era o meu sonho também ter uma, porque é muita subida. Não ia fazer tanta força para puxar e daria para pegar mais coisas, às vezes a gente deixa coisa para trás porque não dá conta [de carregar]. Com a carroça elétrica, dá.” Moacir da Silva, catador de material reciclável na capital paulista — Foto: Reprodução/TV Globo Outra das ações do projeto foca na esfera corporativa, mobilizando empresas a investir nos catadores. Chamado de “Desafio Pimp”, consiste em levar profissionais para uma experiência na rua, vivenciando a rotina de um catador. O dinheiro arrecadado é revertido em melhorias para os catadores. Um dos participantes do desafio foi Thiago Santos, que é diretor comercial. Ele conta que não imaginava que o dia a dia de um catador fosse tão extenuante. “É meio inimaginável pensar que o catador passa horas do dia nesse trabalho bastante desgastante para ter uma remuneração bem baixa. É um desgaste físico e mental bastante alto e pensar que muitas dessas coisas iriam parar no lixo, sem o devido tratamento e aqui a gente tá garantindo a sustentabilidade do mundo. É um trabalho extremamente nobre e pouquíssimo reconhecido.” Durante o desafio, cada equipe é acompanhada por um dos catadores que faz parte do Pimp, como se fosse um “mentor”, compartilhando um pouco da experiência pessoal com pessoas que, muitas vezes, não faziam ideia de como esses profissionais atuam. David Marcos André, de 40 anos, é um deles e avalia que além do trabalho exaustivo nas ruas, ainda é vítima de preconceito. “O ser humano precisa aprender a reciclar. Eu não pego lixo, eu pego material reciclável. Lixo é o sistema.” Nanci Darcolete, catadora de material reciclável na capital paulista — Foto: Reprodução/TV Globo Para Nanci, iniciativas como as do Pimp são fundamentais para melhorar as condições de vida dos catadores, mas ainda falta muito. “Eu já vi em vários municípios cooperativas de catadores sendo contratadas de forma remunerada para coleta seletiva. Mas aqui em São Paulo, por conta da dimensão, eu vejo que o desafio é muito maior. A gente ainda precisa discutir muito como os catadores autônomos, como eu, podem ser incluídos e remunerados.” Por dentro dos ODS Nesta reportagem, tratamos do ODS 8: promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos. Confira em detalhes o que ele estabelece: 8.1 Sustentar o crescimento econômico per capita de acordo com as circunstâncias nacionais e, em particular, um crescimento anual de pelo menos 7% do produto interno bruto [PIB] nos países menos desenvolvidos 8.2 Atingir níveis mais elevados de produtividade das economias por meio da diversificação, modernização tecnológica e inovação, inclusive por meio de um foco em setores de alto valor agregado e dos setores intensivos em mão de obra 8.3 Promover políticas orientadas para o desenvolvimento que apoiem as atividades produtivas, geração de emprego decente, empreendedorismo, criatividade e inovação, e incentivar a formalização e o crescimento das micro, pequenas e médias empresas, inclusive por meio do acesso a serviços financeiros 8.4 Melhorar progressivamente, até 2030, a eficiência dos recursos globais no consumo e na produção, e empenhar-se para dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental, de acordo com o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis, com os países desenvolvidos assumindo a liderança 8.5 Até 2030, alcançar o emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas as mulheres e homens, inclusive para os jovens e as pessoas com deficiência, e remuneração igual para trabalho de igual valor 8.6 Até 2020, reduzir substancialmente a proporção de jovens sem emprego, educação ou formação 8.7 Tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o trabalho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico de pessoas, e assegurar a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, incluindo recrutamento e utilização de crianças-soldado, e até 2025 acabar com o trabalho infantil em todas as suas formas 8.8 Proteger os direitos trabalhistas e promover ambientes de trabalho seguros e protegidos para todos os trabalhadores, incluindo os trabalhadores migrantes, em particular as mulheres migrantes, e pessoas em empregos precários 8.9 Até 2030, elaborar e implementar políticas para promover o turismo sustentável, que gera empregos e promove a cultura e os produtos locais 8.10 Fortalecer a capacidade das instituições financeiras nacionais para incentivar a expansão do acesso aos serviços bancários, de seguros e financeiros para todos 8.a Aumentar o apoio da Iniciativa de Ajuda para o Comércio [Aid for Trade] para os países em desenvolvimento, particularmente os países menos desenvolvidos, inclusive por meio do Quadro Integrado Reforçado para a Assistência Técnica Relacionada com o Comércio para os países menos desenvolvidos 8.b Até 2020, desenvolver e operacionalizar uma estratégia global para o emprego dos jovens e implementar o Pacto Mundial para o Emprego da Organização Internacional do Trabalho [OIT]