No dia seguinte, o técnico de garantia da qualidade já daria entrada na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, onde permaneceria por 66 dias no tratamento contra a Síndrome de Guillain-Barré, condição neurológica rara e grave, autoimune, geralmente provocada por um processo infeccioso prévio. Ao todo, incluindo também os dias de internação no quarto, foram exatos quatro meses na unidade de saúde. A volta para casa foi dois dias antes do aniversário de 36 anos de Vinicius, no dia 27 de setembro. Desde então, a luta diária é para o retorno à vida normal, sem sequelas da doença. Neste processo, as evoluções vão sendo comemoradas, como a alta da fonoaudióloga que, inclusive, permitiu com que ele conversasse com o g1. O objetivo de Vinicius é que, até o fim do primeiro semestre, ele esteja 100% recuperado. Perda dos movimentos e complicações hospitalares Após o quadro de diarreia e fraqueza nas pernas, observados ainda em casa, a situação do juiz-forano foi se agravando ainda mais, até que ele começou a não sentir as mãos logo após a internação. “No quarto [do hospital] eu já estava perdendo alguns movimentos da minha mão, que não conseguia segurar uma garrafinha de água. Também não tava conseguindo levantar os braços por completo até o alto, um levantava um pouco mais e o outro um pouco menos”, explica ele, que logo em seguida foi transferido para a UTI. Juiz-forano Vinicius Bertorelli recebeu uma festinha no dia que deixou a UTI da Santa Casa no tratamento contra a Guillain-Barré — Foto: Santa Casa de Misericórdia/Divulgação Durante os 66 dias de internação na unidade de tratamento intensivo, duas delas entubado, surgiram outras complicações. “Eu tive trombose, tive parada cardíaca, três pneumonias e tive que fazer quatro sessões de hemodiálise”. Em meio ao tratamento, as alucinações devido aos medicamentos também foram frequentes. “Tive alucinações boas e alucinações ruins, que misturavam com coisas que eu já vivi com coisas que eu estava querendo viver. Misturavam as pessoas que conviviam comigo: equipe médica, amigos e parentes que me visitavam. Confesso que fiquei um pouco perdido para saber o que era a verdade ali, o que eu estava vivendo e o que não era”. Aniversário marcado pelo recomeço Depois da alta, o aniversário de Vinicius, celebrado no dia 29 de setembro, foi marcado por uma comemoração caseira, dele, a mãe, o irmão e mais duas pessoas. Vinicius Bertorelli recebendo os cuidados em casa, ao lado da mãe, do irmão e da cachorrinha Vida — Foto: Arquivo Pessoal “Como eu havia acabado de sair do hospital, tava evitando ter um contato com as pessoas, mas a gente fez uma festa de aniversário reduzida aqui em casa, mais tranquila”. Mesmo com limitações e auxílio em atividades básicas, o juiz-forano celebra as pequenas conquistas. “Para tomar um banho, ir no banheiro, me alimentar, eu ainda preciso de uma pessoa, porque meus movimentos estão bastante limitados, mas eles estão bem melhores de quando eu cheguei aqui em casa. É um processo, é lento, mas acredito que até o final do primeiro semestre já esteja de volta a minha vida normalmente, recuperado e sem sequelas”. Neste período, Vinicius diz que muitas foram também as mudanças internas. Alguns planos são incentivos diários, para que as sequelas sejam superadas. Vinicius Bertorelli em foto tirada pouco antes do diagnóstico de Guillain-Barré — Foto: Arquivo Pessoal “Eu já tava em um processo de mudança interna e tava tentando livrar de alguns costumes. Tanto que as alucinações que tive no hospital, as alucinações boas, todas estavam interligadas a algum tipo de vontade que eu tinha. Então quero realizar essas vontades. Por exemplo, eu tive alucinações de duas vezes que consegui trabalhos na região de São Paulo ou São Paulo capital. Então, isso consigo fazer acontecer”, almeja. “Questões da minha faculdade de administração, que também quero terminá-la. Tem uma pessoa que apareceu, especial nesse processo que eu fiquei doente. A gente se aproximou bastante e, se tudo der certo, eu vou estar mudando para a gente morar junto, para estar junto com ela, para a gente começar a construir uma vida”. O segredo para superar a doença, segundo ele, vem da tranquilidade em aceitar o processo. “Acho que encarei de forma bem tranquila, enquanto a situação esteve no meu controle. Tive alguns momentos de pânico que precisei de um auxílio da Neuza, a psicóloga lá da Santa Casa, mas, fora isso, eu encarei a síndrome com muita tranquilidade, paciência, respeitei os processos. Sei que ainda preciso de paciência e de tranquilidade, mas sei que eu vou terminar bem essa história”. Qual a causa da Guillain-Barré? A síndrome de Guillain Barré é classificada como uma doença autoimune, onde o próprio sistema imunológico passa a atacar certas partes do corpo de um indivíduo. Imagem de microscópio eletrônico mostra bactéria Campylobacter jejuni, que desencadeia cerca de 30% dos casos de síndrome de Guillain-Barré. — Foto: Domínio Público A região acometida é o sistema nervoso periférico, responsável por fazer a comunicação entre o cérebro e as diferentes regiões e estruturas do nosso organismo. Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome é geralmente provocada por um processo infeccioso prévio. Alguns agentes identificados como possíveis gatilhos para a síndrome são: Campylobacter, uma das bactérias por trás da diarreia;Zika;Dengue;Chikungunya;Citomegalovírus;Vírus Epstein-Barr;Influenza A (um dos causadores da gripe);Mycoplasma pneumoniae;Enterovírus D68;Hepatites A, B e C;HIV;Sars-CoV-2 (causador da covid-19) VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes