Os peritos criminais da Polícia Federal foram os responsáveis por analisar os locais depois da operação. Foram mais de dois anos de trabalho de perícia e investigação, e envolveu mais de 50 peritos – as informações constam em mais de 1.500 páginas de laudos e relatórios da PF. São vídeos, áudios e simulações em 3D que desmontam a versão de confronto entre policiais e bandidos. O inquérito da PF conclui: o objetivo dos policiais era executar os criminosos. Veja no vídeo acima. Fantástico mostra a reconstituição de uma ação policial que resultou em 26 mortes em Varginha (MG) — Foto: Reprodução/ TV Globo A ação em 2021 No segundo semestre de 2021, a Polícia Federal, a Polícia Militar de Minas Gerais e a Polícia Rodoviária Federal trabalhavam com a informação que a cidade de Varginha seria alvo de um mega-assalto, realizado por bandidos do chamado “novo cangaço” — grupos criminosos, fortemente armados, que roubam bancos, transportadoras de valores e aterrorizam cidades do interior. O relatório ao que o Fantástico teve acesso mostra os seguintes passos do que teria acontecido no dia 31 de outubro de 2021: “Por volta das 5h, ao alvorecer, iniciam-se as manobras de entrada”;”Primeiramente, uma caminhonete da PRF derruba o portão principal do sítio”;”Logo após, a equipe tática inicia entrada no perímetro alvejando as janelas frontais”;”Fração da tropa caminha até a entrada principal e arromba a porta da sala. Um grupo adentra ao imóvel e inicia a visualização dos que ali estavam. Todos foram alvejados”;”A equipe policial progride rumo aos quartos do térreo e ali elimina quem lá estava. Os suspeitos que ganharam a cozinha e já rumavam para porta de acesso à piscina foram baleados”;”Parte do grupo de policiais inicia subida aos andares superiores”;”Há quem se mantenha nos quartos, há quem se esconda no banheiro, há quem vai para a varanda. Todos são alvejados”;O texto descreve ainda que “uns poucos conseguem ganhar o telhado buscando os fundos do sítio. A disposição de tropa do Bope no meio do mato se encarrega de também neles atirar”;”Quem chega ao sítio vizinho ou aos fundos do sítio 1 também é morto”. Para a perícia, todas as roupas e objetos no chão foram colocados após o confronto, pelos policiais, para dificultar o trabalho dos peritos e os objetos recolhidos foram separados, indicando onde estavam dentro da casa. Os peritos reconstruíram mais de 200 trajetórias de tiros na ação policial de Varginha (MG) — Foto: Reprodução/ TV Globo Os peritos também encontraram, ao todo, 310 cápsulas de balas. Mas desse total, apenas 20 foram disparadas pelas armas dos bandidos. Pelo computador, a Polícia Federal recriou o local do confronto e mostrou onde estavam os policiais no momento em que atiravam contra os criminosos. Os peritos reconstruíram mais de 200 trajetórias de tiros. Para a Polícia Federal, alguns tiros atribuídos aos bandidos foram, na verdade, forjados. Ainda segundo a PF, ligações feitas para o disque denúncia também indicam que os policiais forjaram a situação. Outro ponto chamou a atenção dos peritos: nenhum corpo foi encontrado no local. Em depoimentos, os policiais que participaram da ação disseram que prestaram os primeiros socorros aos bandidos depois do confronto. E que carregaram os feridos em caminhonetes para centros médicos da região. Câmeras de segurança de um hospital e de uma UPA registraram o momento em que os policiais chegaram. Para a PF, as imagens não deixam dúvidas que os bandidos já estavam mortos. Diversos mortos apresentavam as chamadas lesões de defesa – que é quando a vítima está vendo o agressor e tenta apenas se proteger. Segundo o relatório, “dos 26 mortos, 17 apresentavam pelo menos uma lesão póstero-anterior”, o que significa que levaram tiros pelas costas. Os peritos passaram 10 dias analisando os locais da ação, realizando diversos testes de balística, microvestígios e até de DNA. Assim, conseguiram indicar milimetricamente onde estavam 12 corpos. Outra prova apresentada no relatório da Polícia Federal foram vídeos feitos por drones que mostram os dois sítios usados pelos bandidos. Eles foram gravados pela Polícia Rodoviária Federal dias antes da operação, o que mostra, segundo a PF, que toda a ação foi premeditada. Peritos passaram 10 dias analisando os locais da ação, realizando diversos testes de balística, microvestígios e até de DNA — Foto: Reprodução/ TV Globo Indiciamento O que dizem os citados Por nota, a Polícia Rodoviária Federal disse que durante essa ocorrência um farto armamento foi apreendido: metralhadora ponto 50, fuzis de grosso calibre, pistolas, dezenas de quilos de explosivos e grande quantidade de carregadores e de munições. Destaca também o compromisso com os limites constitucionais, a defesa do estado democrático de direito e que colabora com os órgãos competentes para esclarecimento de todos os aspectos da ocorrência. A defesa dos policiais rodoviários federais indiciados repudia as conclusões do inquérito policial e informa que todos os PRFs estão conscientes da lisura de seus atos e cumpriram sua missão de proteger os interesses maiores da sociedade brasileira. A Polícia Militar, por nota, informa que acompanha o caso e não se manifestará sobre o inquérito que tramita sob sigilo. Já a Defensoria Pública de Minas Gerais, que atua na defesa dos PMs indiciados, repudia as conclusões adotadas no inquérito da Polícia Federal e diz ainda que não houve o encerramento das investigações, em especial das contra perícias, uma vez que o relatório da PF contraria as conclusões das investigações realizadas pela Autoridade Judiciária Militar e de outras instituições. A Polícia Federal informou que o inquérito foi encaminhado à Justiça e como o caso ainda não foi encerrado, não vai se manifestar. Ouça os podcasts do Fantástico