O que muitos não sabem é que, dentre os diversos ativistas, magnatas e intelectuais, uma mulher se destacou nesse período e é considerada pelos historiadores como a “heroína da Inconfidência Mineira”. Nascida em 1759, em São João del Rei, Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira teve papel importante na política mineira. Para conhecer mais sobre a história dela, o g1 conversou com a historiadora e professora Elizabeth Hallack Cobbuci. “Ela veio de uma família aristocrata e, por isso, teve excelente educação. Era uma exceção uma mulher saber ler e escrever nessa época. A arte era um de seus principais interesses”, explica. Antes de completar 20 anos, conheceu Alvarenga Peixoto, uma das figuras mais importantes do movimento inconfidente. Os dois se envolveram e foram morar juntos antes de se casarem, o que foi um escândalo para a sociedade mineira da época. Além disso, o casal oficializou a união na Igreja Católica somente quando a filha deles tinha 3 anos, o que não era normal para o século XVIII. ” Um dos pontos mais importantes dessa história é que Bárbara e Alvarenga tinham grande envolvimento político na sociedade. Eles cediam a casa para as reuniões do movimento Inconfidente”. Da relação familiar, veio também o envolvimento político. Segundo o escritor Aureliano Leite, no livro ‘A vida heroica de Barbara Heliodora’, a presença dela foi fundamental na vida do marido: “Ela foi a estrela do norte que soube guiar a vida do marido, foi ela que acalentou o seu sonho da Inconfidência do Brasil… quando ele, em certo instante, quis fraquejar, foi Bárbara quem o fez reaprumar-se na aventura patriótica. Disso e do mais que ela sofreu com a alta dignidade fez com que a posterioridade lhe desse tratamento de heroína da Inconfidência Mineira”. Em 2019, 200 anos após sua morte, Bárbara recebeu o título de cidadania “in memoriam” pela Câmara Municipal de Ouro Preto. Exílio de Alvarenga Peixoto A Inconfidência Mineira, que até então era uma organização secreta, foi descoberta e considerada traição pela coroa portuguesa. Todos os envolvidos foram presos, inclusive Alvarenga, mas Bárbara foi poupada até certo ponto. Isso porque, segundo a historiadora Elizabeth Hallack Cobbuci, nos interrogatórios os homens procuraram resguardar a família e os bens materiais. Com a descoberta do movimento inconfidente, Peixoto teria pensando em delatar os companheiros, mas Bárbara teria sido foi veemente contra: “Antes a miséria, a fome, a morte, do que a traição!” “Alvarenga Peixoto foi condenado ao exílio na África e teve todos os bens confiscados”, explica a historiadora. Bárbara nunca mais viu o marido, que morreu ainda preso. Há poemas escritos para a amada, dentre eles “Bárbara Bela”. “Bárbara bela, do Norte estrela,Que o meu destino sabes guiar,De ti ausente triste a suspirar.Por entre as penhas de incultas brenhasCansa-me a vista de te buscar;Porém, não vejo mais que o desejo,Sem esperança de te encontrar.Eu bem queria a noite e o diaSempre contigo poder passar;” (Poema dedicado à sua esposa, remetido do cárcere da Ilha das Cobras) Família e poesia Viúva, Bárbara, mãe de três filhos, precisou lutar para conseguir administrar os bens que não foram confiscados. “Uma parte ela conseguiu e administrou sozinha: a casa, a fazenda e a mina. Nenhuma mulher comandava sozinha uma família e os bens”, explica a historiadora Elizabeth Hallack Cobbuci, ressaltando o comportamento incomum para mulheres da época. Como forma de resistência, Heliodora também passou a se destacar na poesia, sendo considerada autora os primeiros poemas registrados no Brasil – em uma época em que poucas eram as mulheres alfabetizadas: “As obras são inspiradas em seus filhos. O soneto mais famoso é dedicado à filha mais velha, Maria Ifigênia, que morreu aos 13 anos em decorrência de uma queda de cavalo”, detalha a historiadora. “Amada filha, é já chegado o dia, em que a luz da razão, qual tocha acesa, vem conduzir a simples natureza:– é hoje que o teu mundo principia.A mão, que te gerou, teus passos guia; despreza ofertas de uma vã beleza, e sacrifica as honras e a riqueza às santas leis do Filho de Maria.Estampa na tua alma a Caridade, que amar a Deus, amar aos semelhantes, são eternos preceitos da Verdade.Tudo o mais são ideias delirantes; procura ser feliz na Eternidade, que o mundo são brevíssimos instantes. (Amada filha, é já chegado o dia) Com o passar dos anos, o esquecimento da figura de Bárbara na literatura inspirou as poetas Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa a resgatar a história da mineira. Henriqueta chegou a escrever um ensaio sobre a heroína da Inconfidência. “Se pela estirpe, descendente que era de bandeirantes, Bárbara Heliodora tinha orgulho no sangue e majestade no porte pela sua condição de mulher amantíssima saberia suavizar a situação patética em que transpôs o limiar da história.” VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes
Conheça a história de Bárbara Heliodora, considerada a ‘heroína da Inconfidência Mineira’
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