Mais de 12 milhões de habitantes, o centro financeiro do Brasil, R$ 95 bilhões no Orçamento. Essa é a magnitude da maior cidade do país, que em um ano pode ficar marcada pela pior campanha eleitoral em décadas. O município de São Paulo caminha a passos largos para um pleito sem bons candidatos. Nem a direita nem o PT fecharam postulantes ao cargo de prefeito. O PT, que nunca abriu mão de ser cabeça de chapa, concretizou o apoio à candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) para o posto. publicidade Boulos é um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e representa a extrema-esquerda — muito distante de petistas que comandaram a cidade, como Fernando Haddad ou Marta Suplicy. No início deste ano, o PL, maior partido de oposição ao governo, chegou a flertar com a candidatura do deputado federal Ricardo Salles. Contudo, sob o argumento de querer um “nome mais ao centro”, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, deve abrir mão de ter candidatura própria. Nos próximos meses, o PL tende a oficializar o apoio à reeleição do atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB). Ele assumiu a administração de São Paulo em maio de 2021, depois que o então prefeito, Bruno Covas (PSDB), morreu. O problema é que Nunes não tem votos. Os mais de 3 milhões que elegeram a chapa Covas-Nunes foram entregues ao tucano, não ao emedebista, um nome desconhecido da população — que patina em entrevistas e aparece muito pouco em público. Além das questões relacionadas à zeladoria da cidade, Nunes enfrenta outro grande dilema: a impopularidade. Segundo um levantamento feito pela Paraná Pesquisas, três em cada cinco moradores do município não sabem o nome do prefeito de São Paulo. O número corresponde a 60% da população da maior cidade do Brasil. Apesar de mais de 50% aprovar, em geral, a administração de Ricardo Nunes, seu nome não é lembrado. A briga entre Salles, Nunes e Valdemar por São Paulo Salles contava com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e do PL | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil No início deste ano, Salles decidiu procurar o PL para se apresentar à disputa da prefeitura paulistana. O ex-presidente Jair Bolsonaro, maior cabo eleitoral da direita, retornou dos EUA em março com o nome de Salles engatilhado. Contudo, os planos do partido eram outros. Para combater a extrema-esquerda de Guilherme Boulos, a centro-direita buscou uma aliança. Valdemar alega nunca ter sido procurado por Salles para tratar de uma possível candidatura. No entanto, conforme apurou Oeste, o deputado falou abertamente, pelo menos uma vez, com o presidente do PL sobre a questão. De acordo com interlocutores, desde 2020, Valdemar tinha um compromisso em apoiar a reeleição de Nunes. O acordo teria sido costurado com o deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), e o presidente do PL municipal, o vereador Isaac Félix. Entre 2001 e 2012, Rodrigues, por exemplo, foi o único vereador a comandar a Câmara Municipal por quatro vezes consecutivas. Já Milton Leite é o “padrinho” político de Nunes, responsável por indicar o nome dele para disputar a chapa ao lado de Covas. A tese de apoiar a reeleição de Nunes, e usar o argumento de que ele é um nome mais ao “centro”, seria apenas uma desculpa para o PL emplacar seus interesses. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também é apontado como um dos grandes articuladores em prol do atual prefeito. Nas eleições de 2022, Nunes apoiou a candidatura de Tarcísio e, em troca, pediu o aval para a reeleição. Até o momento, nem o PL nem Bolsonaro declararam oficialmente apoio ao emedebista. Mas, nos bastidores, o “noivado” já está praticamente confirmado. A justificativa do ex-presidente para pedir votos a Nunes será que “qualquer coisa é melhor do que o Boulos”. Em troca, o partido deseja emplacar um nome para vice-prefeito. O Republicanos e o União Brasil também pleiteiam um nome para vice. O que pensa Ricardo Nunes? Presidente da República, Jair Bolsonaro, e prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes | Foto: Divulgação Apesar de reconhecer que ainda não tem o apoio oficial do PL nem do ex-presidente, Nunes não esconde o acordo feito em 2020 com o partido. A legenda ocupa, de forma oficial, a gestão emedebista na capital. “Tenho uma boa relação com a banca do PL na Câmara Municipal”, explicou o prefeito a Oeste. “O presidente do PL-SP me apoia. É natural que um projeto que deu certo continue em 2024 no combate a esquerda.” Nunes admite o peso que o apoio de Bolsonaro traria para sua candidatura, mas nega estar implorando pela aliança. “Tenho uma boa relação com o presidente Bolsonaro”, continuou.” Não sou amigo, mas gosto dele. Não vou deixar Bolsonaro constrangido, ele sabe da responsabilidade como líder nacional.” Nos bastidores, porém, interlocutores afirmam que Nunes “trabalha intensamente” para angariar o aval de Bolsonaro. Em uma conversa com o ex-presidente em maio, Nunes disse: “Sou de centro, mas tenho posicionamentos conservadores”. Leia também: “Currículo de escolas infantis de São Paulo prevê educação de gênero” Em relação a Salles, Nunes argumenta que os apoios para candidaturas precisam ser “construídos”. Além disso, alega que o deputado foi “imaturo”. “O diretório do PL de SP me disse que nunca foi procurado pelo Salles, que nem conhecem ele”, disse Nunes. “Salles se antecipou ou foi muito imaturo em querer uma candidatura de um grupo. Não tenho como interferir, nunca fez nenhuma colocação contra ele. Salles fez um voo solo. Faltou paciência para em fazer uma construção. Política é construção.” O fator Kim Kataguiri O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) | Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados Longe da ambiguidade Nunes-Boulos, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) também busca emplacar o próprio nome para a prefeitura de São Paulo. O parlamentar ganhou as prévias do Movimento Brasil Livre (MBL) — do qual é um dos fundadores — para disputar o posto. Kataguiri tem o aval do diretório estadual do União para trabalhar, inicialmente, sua pré-candidatura. A ideia é mostrar a inviabilidade de Nunes para os demais partidos e convencer o União a “comprar a briga”. “Nunes não é o nome para a direita”, explicou o deputado a Oeste. “Ele é um completo desconhecido. A zeladoria urbana da cidade está completamente largada. Ele nunca foi um vereador de tribuna, mas sempre um sujeito de bastidor. Não existe vice-prefeito que vá trazer o apoio do bolsonarismo a ele. Não se vota no vice, mas no prefeito. Ainda que aconteça um endosso do Bolsonaro, o eleitor de Bolsonaro sabe que o Nunes não é direita.” A pré-candidatura de Kim, no entanto, não é realmente oficial. Ele teria feito um acordo com Milton Leite até o partido fechar a coligação — em apoio a Nunes. “Kim tem o respeito do partido, mas a decisão de apoiar um candidato vai ser decidida em convenção”, disse Leite a Oeste. “Atualmente, a maioria tende a apoiar Nunes. O clima está muito favorável à reeleição.” A “guerra” entre as esquerdas por São Paulo O deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) durante o congresso municipal do PT, em que o partido declarou apoio a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, no sábado 5 | Foto: Leandro Paiva Antes de oficializar o apoio a Boulos para a disputa na capital paulista, o PT enfrentou algumas crises internas. Isso porque o acordo do líder sem-teto é com Lula, não com o partido. A decisão histórica aconteceu para não desrespeitar a liderança que o petista exerce sobre a legenda. O PT não deve entrar de cabeça na campanha. Uma ala do PT ligada ao deputado Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação da sigla, defende publicamente uma candidatura própria do partido. Segundo o vereador João Ananias (PT), o apoio do partido também veio depois de o PT ter a certeza de que vai ser contemplado com a verba do fundo partidário para as candidaturas à Câmara Municipal. “O mais importante para nós é como a bancada será tratada pela verba do Fundo Partidário na nossa candidatura”, explicou Ananias. “É mais importante isso do que a filiação. Queremos saber como os candidatos do PT serão tratados pela verba do Fundo Partidário.” A legenda deve indicar um nome para a vice-prefeitura. Por enquanto, é um cenário muito diferente do que já se viu no maior colégio eleitoral do Brasil. Falta um ano para o início da corrida. A ver.
O que aconteceu com os candidatos em São Paulo?
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